Eu quero a minha mãe!


“Eu estava tão cansada que quase desisti, mas faço questão de amamentar pelo menos até os 6 meses.” Adriana Zampaulo Sândalo

Créditos: Cecília Bastos
Ivany Yara Medeiros
 

“Não é fácil, tem que ter muita força de vontade. Eu estava tão cansada que quase desisti, mas faço questão de amamentar pelo menos até os 6 meses”, afirma Adriana. A facilidade para ela está na proximidade da escolinha e do trabalho e na flexibilidade de horário que este permite. Hoje, ela retira o leite para ser dado na mamadeira, mas ainda corre até o Gabriel no horário de almoço.

O estudo de Ivany buscou ouvir o que a mãe tem a dizer sobre sua real situação, independente do padrão ideal divulgado pelas campanhas de incentivo à amamentação. Através do Método do Discurso do Sujeito Coletivo, desenvolvido por professores da USP, inclusive o professor Fernando Lefèvre, orientador da pesquisa, 54 mulheres divididas entre menor e maior renda, entre 17 e 45 anos, com filhos de 4 meses a dois anos, deram suas opiniões.

“O método permite que as entrevistadas se expressem sem interferências do pesquisador. As idéias semelhantes são posteriormente agrupadas, formando representações sociais”. Ivany Yara Medeiros

Créditos: Cecília Bastos
Eliana Nacimento
 

A pesquisa constatou que quanto maior o nível profissional da mulher – executivas e profissionais liberais – mais cedo ela retorna ao trabalho (uma média de respectivamente 3,3 e 3,5 meses após o parto). As semi graduadas – que têm normalmente proteção legal (CLT) e cobertura das empresas – retornam após 5,4 meses. Enquanto as não-graduadas retornam após 4,4 meses, em média.

O estudo chama a atenção especialmente para o contraste e os encontros inesperados dos pontos de vista dos dois grupos de mães. “Na questão: Qual a importância do trabalho para você?, surpreendeu-me que a maioria das entrevistadas veja o trabalho como uma satisfação pessoal. Essa constatação é muito maior na parte de maior renda, mas mesmo entre aquelas que trabalham porque precisam, surgiu essa idéia”, conta a pesquisadora.

“Uma opção é a mãe tirar o leite e deixar para quem cuida do bebê dar na mamadeira, seja em casa ou na escolinha.” Eliana Nascimento

   

Eliana Nascimento, funcionária do Serviço de Materiais da Faculdade de Educação, retornou ao trabalho depois de 5 meses do nascimento de suas filhas. “Eu amamentava de manhã, antes do trabalho, e à noite, quando voltava para casa”, conta. “Apesar de adorar as crianças, não gostaria de parar de trabalhar, primeiramente pela questão financeira, mas também porque não me agradaria ficar em casa somente cuidando delas.”

Muitas mulheres afirmam que a importância do trabalho é ‘pelos filhos'. Interessante é verificar a diferença de interpretação dessa expressão entre as entrevistadas. “Pelos filhos, quando são mulheres de menor renda, remete a uma questão financeira, de sobrevivência. Ao passo que, quando se trata de mulheres de maior renda, significa dar um modelo de uma mulher que trabalha e se esforça, a questão do sustento não aparece”, esclarece Ivany.

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