texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo

 

Cecília Bastos

 

 

 

 

Crédito: Francisco Emolo
Durante a ditadura, Dallari atendia sindicalistas e demais perseguidos políticos. Um dia, foi levado até a cela onde estavam esses colegas, que se empolgaram com sua presença. “Nosso advogado chegou!”, comemoraram. “Pois é, mas nesse dia, era eu quem estava chegando preso”, lembra.

 

 

 

 

 

 

 

 


Nascido em 31 de dezembro de 1931, Dalmo de Abreu Dallari é considerado hoje um dos maiores juristas brasileiros. Professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP, autor de Elementos da Teoria Geral do Estado, ativista da histórica Comissão Pontifícia de Justiça e Paz na década de 70, membro da Comissão Internacional de Juristas e ex-membro da Cátedra Unesco/USP pelos Direitos Humanos. Entre outros títulos nacionais e internacionais, o professor Dallari demonstra que a participação social e política não depende do status acadêmico. Qualquer um pode dar sua contribuição participando de questões locais e cotidianas. Quer ver outro cargo do professor? Vice-presidente da Associação dos Moradores do Bairro Vila Nova Conceição. Quem não pode atuar no próprio bairro?

Dallari cresceu em Serra Negra, interior de São Paulo, junto com os pais e quatro irmãos. A família se mudou para a capital paulistana apenas em 1947, com o objetivo dos filhos estudarem. Só os filhos, a filha não. “Era um problema da mentalidade da época”, lembra.

O pai, descendente de italianos, tinha uma sapataria. Era seu costume ler o jornal e explicar as notícias para a antiga clientela, composta principalmente por imigrantes que trabalhavam na roça. “Nessa época, eu ainda era um toquinho, mas ficava ouvindo as conversas”, conta Dallari. “Eu fixei, por exemplo, que meu pai falava contra Getúlio, e que meu tio morreu na luta de 32.” Essas informações motivaram Dallari, aos oito anos, a corrigir a professora do ginásio onde estudava, em Serra Negra. Quando ela mencionou para a classe o presidente Vargas, ele interrompeu: “Presidente não, professora. Ditador!”.

Em São Paulo, os irmãos completaram o chamado curso clássico, equivalente ao ensino médio. “Quando deixei Serra Negra, já queria estudar direito. O ambiente familiar me influenciou, claro. Além da liderança política que vi em meu pai, minha mãe era uma leitora assídua. Ela admirava, inclusive, a tradição da faculdade do Largo São Francisco e seus poetas: Castro Alves e Álvares de Azevedo.”

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