Uma vida consagrada

 

©: arquivo pessoal
Integrante do time de vôlei da Faculdade de Medicina, Angelita vestia a camisa número 11.

 

 

 

 

 

 

 

 

©: arquivo pessoal
Angelita com o padrinho de casamento Alípio Correia Neto, em 1964.

 

 


Em 1951, clube, colégio e antigos amigos tiveram que ser deixados para trás. O ingresso na Faculdade de Medicina da USP (FM/USP) dava início a um novo ciclo da vida de Angelita, durante o qual ela manteve o dinamismo habitual: estudava o dia todo, fazia aulas de natação na atlética, participava de competições de vôlei pela faculdade, era integrante – a primeira do sexo feminino – do “show da medicina” (apresentações lúdicas utilizando os conhecimentos adquiridos na faculdade), e ainda arrumava tempo para sair com os amigos: “A vida de faculdade é de muito estudo, mas também é muito divertida. Tínhamos muitas atividades, como bailinhos uma vez por mês, e meus colegas de turma eram fantásticos”.

A partir do terceiro ano, assim como seus colegas de classe, Angelita passou a freqüentar os diversos departamentos da medicina, a fim de descobrir a área que mais lhe agradava. Foi quando se apaixonou pela cirurgia e se tornou pioneira: “Fui a primeira mulher a fazer residência nessa área. A cirurgia naquela época era quase que reservada para os homens. As mulheres iam mais para pediatria, ginecologia, obstetrícia, clínica médica”. Em seguida, especializou-se em cirurgia do aparelho digestivo, campo em que atua até hoje.

Por ser uma das poucas mulheres cirurgiãs da época, Angelita viveu algumas situações inusitadas: “Às vezes eu estava atendendo o doente, examinando-o, e quando chegava a hora de operá-lo ele perguntava – Cadê o médico, quem vai me operar, que horas vai chegar o cirurgião?”.

No início dos anos sessenta, com o apoio da Cultura Inglesa e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Angelita conseguiu uma bolsa para fazer seu pós-doutorado no St. Marks Hospital de Londres, único hospital da época que lidava com doenças de intestino, reto e ânus. Assim como no Brasil, Angelita também foi pioneira na Inglaterra: “Levou um tempo para eles me aceitarem, pois lá também só havia homens”.

Daí em diante, a já bastante atarefada rotina de Angelita foi se tornando cada vez mais cheia. Isso explica porque, embora seja casada desde 1964, ela não tem filhos. O marido, Joaquim José Gama Rodrigues, também era médico e, assim como ela, se tornaria livre-docente da Faculdade de Medicina da USP. “A vida inteira tivemos um ritmo muito puxado. Quando durmo muito, são seis, sete horas por noite”.

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