por Elaine de Sousa e Marcos Paulo da Silva, especial de Bauru

fotos: arquivo/ centrinho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Centrinho no início da década de 70.

 

 

 

 

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Hoje 761 colaboradores cumprem a missão do Centrinho.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Charles de Jesus (esq) e Charles Melo dos Santos trocam cartas de baralho e experiências de vida.

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Humanizar é diferente de paparicar.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Na área de audição o Centrinho também se destaca.

 

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Só em 2006, o hospital teve uma produção científica com mais de cem títulos, considerando anais, monografias, dissertações, teses, capítulos de livros e artigos.



Tudo começou nos difíceis dias do fim da década de 60. Anos de chumbo no Brasil, mas também de esperança na área da saúde pública. O pontapé inicial para a criação do Centrinho/USP – hospital que se transformou numa das mais respeitadas instituições públicas brasileiras especializadas no tratamento das anomalias craniofaciais, com autonomia e excelência - foi dado, em 1965, por sete pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB/USP), no campus local: Halim Nagem Filho (cirurgião-dentista), Décio Rodrigues Martins (ortodontista), Wadi Kassis (cirurgião), Bernardo Gonzáles Vono (odontopediatra), Noracylde Lima (cirurgião bucomaxilofacial),  José Alberto de Souza Freitas (radiologista) e  o estatístico Ney Moraes (falecido).

Naquele ano, foi feito, em escolares na cidade de Bauru, um levantamento estatístico da incidência de malformações craniofaciais. “Aquelas pessoas não
podiam ficar sem respostas. Foi então que decidimos criar um centro de reabilitação que pudesse atender os pesquisados, já integrado por professores de diversas especialidades”, conta o idealizador do centro, professor Halim Nagem Filho, titular do Departamento de Materiais Dentários da FOB/USP (1981).

Em junho de 1967, estava, então, fundado o Centro de Pesquisas e Reabilitação de Lesões Labiopalatais, nas dependências da faculdade. Em poucos anos, o número de pacientes foi se multiplicando e, com espírito inquieto e desbravador, o jovem cirurgião-dentista José Alberto de Souza Freitas, um dos sete fundadores, tratou de ampliar aquele trabalho, conseguindo transformar o pequeno centro de pesquisas ligado à FOB/USP numa instituição de referência não só para o Brasil, mas de reconhecimento internacional.

Um hospital no meio do caminho

O diminutivo do nome engana, afinal o Centrinho – hoje, Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC/USP) - se transformou mesmo num centrão. Mas nem por isso perdeu o jeito carinhoso e humanizado do início da década de 70, quando seus primeiros funcionários se tratavam como familiares. Hoje, a missão traçada há quatro décadas é cumprida por 761 colaboradores.

Quem adentra as salas do Hospital logo percebe a presença de pessoas de diversos sotaques, que de cara demonstram ter vindo de longe... Nos registros de matrícula já somavam 69.417 (45.420 com anomalias craniofaciais e 23.997 com deficiência auditiva), até março de 2007.

A maioria delas (55%) vem de cidades do Estado de São Paulo. As demais (45%) completam a diversidade cultural que marca o restante do País. Na face está o principal foco do trabalho da equipe - pioneiro no Brasil com base na filosofia de atendimento integral e interdisciplinar, oferecido via SUS (Sistema Único de Saúde).

Todos os dias, cerca de 15 novos pacientes chegam aos guichês do Centrinho/USP ansiosos pela primeira consulta. São os chamados casos novos. Outros 240 brasileiros recebem atendimento de rotina no ambulatório do Hospital, incluindo as áreas de enfermagem,  fonoaudiologia, odontologia, psicologia, pediatria, otorrinolaringologia, assistência social, fisiologia, fisioterapia e demais profissionais que apóiam o atendimento hospitalar.

Uma dessas histórias é do técnico em eletrônica Charles Melo dos Santos, 30, que há uma década freqüenta o hospital para correção de sua fissura de lábio e palato. Morador de Manaus/AM (3.765 quilômetros de Bauru), ele costuma enfrentar três pontes aéreas e um dia todo de viagem para ser atendido. Esforço que afirma valer a pena – somente no Centrinho/USP foram seis cirurgias. “Hoje me sinto bastante satisfeito com a recepção que recebo no hospital”, diz.

A satisfação é dividida em uma mesa de bate-papo com o xará Charles Felipe Caetano de Jesus, 16 anos, de Belo Horizonte (731 quilômetros de Bauru). Enquanto repousam de suas cirurgias, os dois pacientes trocam cartas de baralho e experiências de vida. Amazonense e mineiro provavelmente nunca se conheceriam
se o Centrinho/USP não estivesse no meio do caminho. As trajetórias diferentes não impedem que se ajudem na tarefa de esquecer a saudade de casa.

Aliás, o envolvimento de pacientes com a filosofia da instituição não é exceção no hospital. A mesma relação de proximidade levou o jornalista Gustavo Prudente, 25 anos, também paciente, a escrever o livro Sopa de Pizza - Histórias de Gente Diferente, que contém depoimentos colhidos no Centrinho/ USP e hoje aguarda a oportunidade de publicação. “Ao voltar ao Centrinho, para realizar minha reportagem, percebi que a equipe do hospital se pôs do meu tamanho, mas sem se agachar. Eles me deram a mão para que eu pudesse levantar à altura de seus olhos”, lembra Prudente, num verdadeiro sinal de que, nestes 40 anos, para o Centrinho/USP humanizar é diferente de paparicar.

História em números

Alguns números ilustram a dimensão da entidade: 91 leitos, 6 deles de Unidade Intensiva de Tratamento e 8 de Unidade de Cuidados Especiais. Nessa estrutura, são realizadas por mês, em média, 437 cirurgias plásticas. Ao todo, são feitos mensalmente quase 700 procedimentos cirúrgicos.

Na área de audição, por mês, são adaptados mais de 180 aparelhos de amplificação sonora individual. Vale ainda mencionar os mais de 500 implantes cocleares (dispositivo eletrônico de alta tecnologia, também conhecido como ouvido biônico, que fornece impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais em diferentes regiões da cóclea, possibilitando ao usuário, a capacidade de perceber o som) realizados pela equipe desde 1990.

Mas não é só de atendimento que o Centrinho/USP vive. Ensino e pesquisa são prioridade para sua equipe, já que essas áreas alimentam o conhecimento científico, possibilitando o desenvolvimento de novas técnicas que possam implementar o tratamento. Só em 2006, o hospital teve uma produção científica com mais de cem títulos, considerando anais, monografias, dissertações, teses, capítulos de livros e artigos. Os números só comprovam o comprometimento do hospital com a qualidade do ensino oferecido. Atuante nesta área desde o início da década de 90, a instituição iniciou seu programa de pós-graduação em 1995 com cursos de especialização, mantidos até hoje.

A partir de 1998, começaram a ser oferecidos os cursos de mestrado e doutorado, que também atraem interessados de todo o País. Há ainda cursos de aperfeiçoamento e residência médica. Em 2005, por meio de uma portaria interministerial, o Centrinho/USP passou a ser considerado também um hospital universitário de ensino, ratificando as atividades realizadas na instituição. Projetos de pesquisa viabilizados em parceria com instituições estrangeiras, como a Universidade de Iowa e a Universidade da Flórida, ambas dos Estados Unidos, complementam a importância do hospital no cenário científico.

Descentralização

Com o objetivo de estender o atendimento especializado na área de fissuras labiopalatais e deficiências auditivas pelo Brasil afora, a Funcraf (Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais) – principal parceira do Centrinho/USP – mantém três unidades ambulatoriais em regiões consideradas estratégicas: Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em Itararé (SP) e no ABC paulista, em São Bernardo do Campo. Com a implantação de subsedes da Funcraf, a idéia é levar atendimento em nível ambulatorial para mais perto dos pacientes e deixar para Bauru as cirurgias e os casos mais complexos.  

Serviço:
Centrinho/USP
Rua Silvio Marchione, 3-20 - Vila Universitária
17012-900 Bauru/SP
Central de Agendamentos: 14 3235-8129

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