por Daniel Fassa
fotos por Cecília Bastos

Abandonados à porta da ciência

 

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© Cecília Bastos
Marcos Ferraz de Campos, técnico de necropsia e embalsamador, relata que em dias festivos, muito frios ou muito quentes e nos fins de semana, o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital fica mais movimentado.

 

 

 

 

 

 

© Francisco Emolo
Equipe do SVOI: Maria Ângela, auxiliar do laboratório de toxicologia; Marcelo, auxiliar do laboratório de necropsia; Ketily, laboratório de histologia; e Luiz Henrique, técnico de necropsia

 



Em falta, corpos não-reclamados são importantes para o ensino básico de anatomia aos alunos de biológicas

O Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP é o responsável por ministrar as disciplinas de anatomia básica para diversos cursos da Universidade, tais como Medicina, Enfermagem, Odontologia e Educação Física. Para isso, só podem ser utilizados os chamados corpos não-reclamados, que foram apenas 20 em 2006, segundo o diretor do SVOC Carlos Augusto Pasqualucci.

Seguindo legislação federal, o encaminhamento desses corpos obedece a todo um processo que pode levar de dois a três meses. Inicialmente, o cadáver é retido no SVO por um mês. Depois desse período, a instituição de ensino é obrigada a publicar a existência do corpo em um jornal de grande circulação durante dez dias. Em seguida, é feita uma documentação fotográfica e o atestado de óbito é expedido para que, finalmente, um juiz autorize a utilização do corpo para ensino.

Pasqualucci vê na constante diminuição do número de corpos disponíveis um risco para o ensino médico. Para ele, a solução é a doação. “Precisamos criar uma cultura de doação, porque a primeira coisa que vai acontecer é uma resistência natural. Temos que explicar que depois de uma semana, quinze dias, aquele corpo, aquela imagem que você tinha do seu parente não existe mais, porque ocorre um processo de decomposição.”

Por outro lado, a pesquisa não sofre tantos prejuízos com a escassez de corpos, já que se baseia em órgãos específicos, que podem ser obtidos mais facilmente. Isso acontece porque, muitas vezes, não se consegue identificar a causa mortis com a necropsia. Assim, torna-se necessário reter determinadas peças anatômicas para um exame posterior mais detalhado. Além disso, existe uma resistência menor dos familiares em autorizar a retenção de órgãos. É dessa forma, por exemplo, que está se criando um banco de encéfalos na Faculdade de Medicina, a fim de estudar o envelhecimento cerebral, abordando principalmente o mal de Alzheimer.

Para os alunos mais adiantados de Medicina, principalmente aqueles que estão se especializando em cirurgia, é possível também fazer estudos durante os procedimentos normais de necropsia, sem a necessidade de reter o corpo no SVO. Segundo Pasqualucci, da entrada no SVOC à liberação do atestado de óbito, passam-se de 3 a 4 horas.

Em dias festivos, muito frios ou muito quentes e nos fins de semana, o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital fica mais movimentado. É o que relata Marcos Ferraz de Campos, técnico de necropsia e embalsamador. Ele é o encarregado de uma das equipes que se revezam no SVOC 24 horas por dia. Seu turno vai das 7h às 19h, com uma hora de intervalo. “Existe a lenda de que pessoas que fazem necropsias são insensíveis, bebem demais, se drogam. Isso não é verdade”, explica.

Além de ser muito importante para ensino e pesquisa, o processo de necropsia é peça fundamental no controle de qualidade dos hospitais. Saiba mais sobre o assunto na matéria “Desvendando mistérios”.

 

   







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