por Daniel Fassa

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© Jorge Maruta
“Aqui nós não trabalhamos com morte por causa externa, apenas com mortes naturais.” Carlos Augusto Pasqualucci, diretor do SVOC.

 

© Jorge Maruta
Mário Lúcio Romão, em primeiro plano, e Jonivaldo Pereira de Araújo, ao fundo, na recepção do SVOC.


Serviço de Verificação de Óbitos presta serviços à comunidade e apóia ensino e pesquisa

Há mais de 60 anos, a USP realiza necropsias em casos de mortes naturais através do Serviço de Verificação de Óbitos. Fundado em abril de 1931, o órgão foi vinculado à Faculdade de Medicina (FM/USP) oito anos depois, com o intuito de fazer uso dos profissionais e da infra-estrutura universitários. Em contrapartida, de lá para cá, o serviço vem possibilitando a realização de importantes estudos anatômicos que contribuem para o ensino e a pesquisa das diversas faculdades da área médica.

O Serviço de Verificação de Óbitos tem uma sede na capital (SVOC) e uma no interior, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SVOI). O professor do Departamento de Patologia da FM/USP e diretor do SVOC, Carlos Augusto Pasqualucci, faz questão de ressaltar que o órgão contempla as três principais atribuições da Universidade. No SVO, ensino, pesquisa e extensão estão intimamente ligados, a começar pela “prestação de serviços à comunidade, através da elucidação dos diagnósticos de mortes naturais”, como ele mesmo afirma. O professor explica que muitas pessoas confundem o trabalho do SVO com o do IML. “Chegam para mim após um desastre como o da TAM e dizem: ‘ah, o seu serviço deve estar muito movimentado’. Eu digo que não, porque aqui nós não trabalhamos com morte por causa externa, apenas com mortes naturais.”

De acordo com a Lei Estadual nº 5.452, o SVOC só pode realizar necropsias em pessoas mortas na cidade de São Paulo, e o SVOI apenas nas que morreram em Ribeirão Preto. As cidades da Grande São Paulo que quiserem ter o serviço devem se credenciar junto ao SVOC e as do interior junto ao SVOI. No entanto, como observa Edson Garcia Soares, professor da FMRP e diretor do SVOI, nem todas têm a infra-estrutura necessária para isso. “Nós teríamos que fazer uma mudança na lei para resolver esse problema”, sugere.

© Cecília Bastos
Da esquerda para a direita, os técnicos de necropsia do SVOC Marcos Antonio Ferraz de Campos, José Alcides de Omena, Paulo de Souza Caetano e Rogério Vieira Flor

 

 


Dos cerca de 13 mil corpos que passam pelo SVOC todos os anos, apenas uma parcela ínfima pode ser retida para estudos acadêmicos. Isso acontece porque a maioria deles tem que ser devolvida aos seus familiares, que ficam apenas esperando o diagnóstico para poder sepultá-los. O encarregado do setor de recepção do SVO, Mário Lúcio Romão, conta como é o contato com essas famílias: “Geralmente as pessoas chegam nervosas, transtornadas. A família quer que libere logo, não quer que faça autópsia”. Jonivaldo Pereira de Araújo, que ocupa a mesma função, explica como procura lidar com essa situação delicada. “Tem que ir contornando, porque eles já vêm de um hospital, o que é muito desgastante. Nós orientamos, dizemos que tem que esperar a documentação, esperar o médico fazer a autópsia”, afirma.

Entretanto, no decorrer do procedimento normal de necropsia, as chamadas ligas médicas de estudantes têm a oportunidade de fazer estudos anatômicos mais aprofundados, sem prejudicar a liberação dos atestados de óbitos. Além disso, o desenvolvimento de pesquisas não depende tanto da retenção dos corpos. Basta o estudo de órgãos específicos, que podem ser obtidos com maior facilidade. Entenda as diferentes necessidades do ensino e da pesquisa e conheça os trâmites necessários para a retenção dos corpos não-reclamados lendo a matéria “Abandonados à porta da ciência”.

 


 
 
 
 
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