por Talita Abrantes
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Sérgio Ricardo Giraldi, funcionário aposentado da USP, esperou quatro anos por um rim. Segundo ele, a falta de informações sobre os critérios para o andamento da fila gerou desconfiança sobre a credibilidade e honestidade do sistema


Sistema Webtransplante propicia transparência no andamento da fila de espera por um órgão

Como a maioria dos mortais, o guarda universitário aposentado Sérgio Ricardo Giraldi sempre acreditou ter um mínimo de controle sobre sua vida. Contudo, em 1996, da noite para o dia, sua existência deu um giro completo. Os rins, silenciosamente, pararam de funcionar. E, ele migrou do cotidiano aparentemente saudável para a longa fila de espera por um transplante.

Ansiosa para descobrir o destino do marido, Cristina Giraldi, funcionária da Edusp, semanalmente conferia a posição de Sérgio na lista, disponibilizada na internet. O andamento do processo, às vezes, era animador. Outras, não. “Em uma semana ele estava, por exemplo, no número 98. Na seguinte, ele havia voltado para o centésimo lugar”, conta Cristina. “Cheguei até a suspeitar que alguém mais rico teve prioridade”, confessa Sérgio.

Para acabar com essas incertezas, em 2005 a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo em parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto decidiu aprimorar o sistema de inscrição. A nova ferramenta, batizada de webtransplante, descentralizou o processo de cadastro e atualização dos dados. Antes, todos estes dados tinham que ser encaminhados para a Central de Transplantes do Estado e ali o paciente era cadastrado. Agora, as inscrições são feitas pelos próprios membros das equipes de transplante.


 

Foto crédito: Francisco Emolo
"Com o webtransplante, as equipes médicas inscrevem seus pacientes, alteram os dados, informam o evolutivo pós-transplante, tudo pela internet", afirma Luis Pereira, coordenador da Central de Transplantes do estado

 

Foto crédito: Cecília Bastos
Apesar de nunca ter usado o novo sistema, Guido Sergio Fornasari, chefe da Comissão de Doação de Órgãos e Tecidos do HU, opina que o problema do andamento da fila é a falta de órgãos e não a burocracia


"Recebíamos cerca de 90 mil documentos por ano", conta Luis Augusto Pereira, coordenador da Central de Transplantes do Estado. Esta centralização, segundo ele, propiciava uma série de entraves para o bom andamento da fila. "A probabilidade de erro na digitação era muito maior, bem como os riscos de extravio de documentos", exemplifica.

O coordenador da Central de Transplantes do interior, Jeová Mina Rocha, complementa: "Hoje é mais nítido que o médico não interfere na escolha do receptor. É o sistema que, de acordo com os critérios da Lei de Transplantes, decide quem receberá o próximo órgão". Para ambos, o sistema garante transparência e precisão na saga pela chance de um transplante.

O chefe da Comissão de Doação de Órgãos e Tecidos do Hospital Universitário do campus Butantã, Guido Sérgio Fornasari, ainda não usou a nova ferramenta, mesmo assim ele avalia que isso não influencia no andamento da fila. "A burocracia nunca foi um obstáculo para os transplantes", analisa. "O fator limitante é a falta de órgãos."

Pioneiros

Se a espera por um transplante de órgãos hoje ainda é demorada, há alguns anos era uma esperança quase absurda. "Na década de 80, se um paciente precisava de um órgão, o hospital tinha que fazer sozinho a captação do doador. Não havia uma interlocução entre as unidades", aponta Rocha.

Diante disso, em 1987, os médicos do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto encabeçaram a criação de uma Central de Transplantes da região, a São Paulo Interior Transplante (SPIT). A idéia teve tanto sucesso que, tempos depois, foi implantada pelo Ministério da Saúde em todos Estados brasileiros.

Saiba mais sobre o cenário da doação de transplantes no Brasil na matéria "Dilemas éticos na doação de órgãos", da edição de junho de 2007 da Revista Espaço Aberto.

 

 
 
 
 
 
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