- [Campo e Contracampo] Corpo e cinema pela boca aberta de Peter Greenaway, por Evelyn Schuler e Thomas H. Lehmann
A entrevista realizada com o cineasta Peter Greenaway aborda a concepção de corpo em sua obra cinematográfica. O diretor fala das representações ocidentais do corpo e comenta como, em seus filmes, buscou o uso onipresente do corpo em todos os seus aspectos, contendo o de dentro e o de fora, o doente e o sadio, o mutilado, o deformado, o cego...
- Lição de Anatomia, por Paulo Menezes - sociólogo-USP
Ensaio minucioso sobre o filme O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, do cineasta Peter Greenaway. O autor inspira-se na diferença entre o significado de "nu" e de "pelado" em nossa sociedade, para embrenhar-se nas imagens do filme que retratam os corpos na pintura, desde o Renascimento, traçando paralelos entre esses, os corpos do filme e os nossos próprios corpos.
- A dialética do corpo no imaginário popular, por José de Souza Martins
Ensaio que fala da concepção do corpo no imaginário das religiões populares a partir de uma história pessoal de um líder de posseiros na Amazônia. O corpo, nesse imaginário, revela-se como simbólico e carnal, ao mesmo tempo uma dádiva Divina e um bem a ser zelado. O corpo vivo é visto apenas como um fragmento terreno de um corpo simbólico que vai se realizar na eternidade, depois da morte.
Palavras-chave: imaginário popular, dialética, corpo, consciência social.
- Do corpo para ser visto ao corpo invisível: do teatro da crueldade ao Império do Terror, por Marcos Alvito
Ensaio sobre a atuação de líderes da contraventores da avela do Acari (RJ) na configuração de uma moralidade própria à região. Nos anos 70, tais personagens eram tidos como heróis por grande parte da população local, penalizando exemplarmente pessoas que infringiam as leis internas (como estupradores), exibindo seus corpos em chamas ou atirados no abismo sob os olhos de todos, no que Alvito chama de “teatro da crueldade”. Nos anos 90, os nomes de tais figuras são interditos e os corpos penalizados não são mortos em espetáculo público, mas recortados e distribuídos em sacos plásticos, de modo a configurar o que o autor chama de “império do terror”.
- Totem e Tabuleiro – o corpo da baiana nos requebros da canção, por Valéria Macedo
Ensaio sobre o papel da canção na cultura brasileira e a construção da figura da baiana por meio da análise de canções que versam sobre esta personagem. A análise é feita a partir de aspectos que dizem respeito à conformação de uma corporalidade subjacente à baiana que perpassa as composições O que é que a baiana tem?, Lá vem a baiana – ambas de Dorival Caymmi, A falsa baiana – de Geraldo Pereira –, e No Tabuleiro da Baiana – de Ary Barroso.
- As metamorfoses do corpo (breve ensaio sobre um tema ameríndio à luz de uma entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro), por Renato Sztutman
A centralidade dos idiomas corporais entre as populações indígenas da América do Sul é examinada à luz da obra de Eduardo Viveiros de Castro — dos seus primeiros estudos sobre os Yawalapíti do Alto Xingu, que pretendiam debater com a produção etnológica sobre as sociedades do Brasil Central, até discussões recentes como a do "perspectivismo ameríndio", um debate direto com as idéias de Philippe Descola.
- Entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, por Renato Sztutman, Silvana Nascimento e Stélio Marras
O antropólogo carioca fala de seus recentes estudos sobre o "perspectivismo ameríndio", analisando casos etnográficos contemporâneos, discute a produção e a prática antropológica nos dias de hoje, propondo, entre outras coisas, novos critérios para distinguir antropologia e sociologia.
- Alimentando o corpo – O que dizem os Caxinauá sobre a função nutriz do sexo, por Eliane Camargo
A autora faz uma análise sobre a concepção do sexo como alimento do corpo entre os índios Caxinanuá, da Amazônia Ocidental, na fronteira entre Brasil e Peru. A relação entre comida e sexo está presente formalmente na terminologia. Entre os Caxinauá, há várias modalidades de expressar “estar faminto” e revela que a concepção de sexo passa por uma necessidade fisiológica.
Palavras-chave: Caxinauá, Amazônia, terminologia, sexo, alimento.
- Fragmentos de Corpo: O espelho partido – A trajetória de Sabino Kaiabi no Parque Indígena do Xingu, por Mariana K. Leal Ferreira
Conforme enuncia a própria autora, professora de Antropologia da USP, o texto “dá forma à interlocução entre o pajé e líder político Sabino Kaiabi e esta antropóloga. Argumento que a história de vida de Sabino foi construída de maneira dialógica e intersubjetiva num ‘palco espelhado’ onde corpos existenciais foram fragmentados pelo reflexo de espelhos partidos. O corpo, aqui, é entendido na sua perspectiva individual ou fenomenológica a partir da qual Sabino experimenta e vivencia o mundo cotidiano.”
- Ekspirro, por Vadim Nikitin
Diálogo para um ator, elaborado a partir do romance Malone Morre, de Samuel Beckett, e da peça Tio Vánia, de Antón Tchékhov.
- Clones – do grego broto, por Sylvia Caiuby Novaes
A antropóloga discute a questão da clonagem humana do ponto de vista dos valores envolvidos nessa forma de reprodução e da noção de pessoa. O que está em jogo nas discussões sobre clonagem são concepções que a civilização ocidental desenvolveu sobre o que é resultado da criação humana, impregnada de um caráter de originalidade única. Também está em jogo concepções a respeito dos nossos processos de formação de identidade e percepção de si.
Palavras-chave: Clonagem, pessoa, identidade, reprodução humana, civilização ocidental.
- Corpo, cosmologia e subjetividade, por Stélio Marras
O texto propõe pensar os fenômenos da doença e da cura segundo diferentes perspectivas terapêuticas que a comparação de cosmologias permite. Essa diferença pode ser pensada no interior da própria tradição ocidental, altamente mutável, como na comparação entre culturas absolutamente distintas. Assim, o par objetividade e subjetividade parece ser uma chave importante para processar a comparação conforme o engajamento do “doente” na terapêutica da cura. A contraposição da medicina objetivista (como a do médico ocidental) à do xamanismo subjetivista (como a do xamã de sociedades ameríndias) revela modelos culturais muito diversos.