BATISCAFO

Por Felipe Chibás Ortiz.

 

Acima, bem acima,
os navios de papel
chocam suas cobertas
com os navios de aço.

Andar na corda
da minha própria insegurança
sozinho no alto do profundo
já é uma profissão antiga.

Faz séculos desta paixão anfíbia
que me impele a atravessar
a terra que sustenta os mares.

As dúvidas tamborilam na testa;
eu me afogo na bile
e não engulo minhas entranhas
por puro ceticismo.

Os poetas me observam
do outro lado do mundo
enquanto a pupila mais absoluta de Einstein,
se esvazia em minhas retinas.

Na superfície
as ondas lutam
e talvez na areia
dois corpos fundem um novo ser.
Mas isso é acima, muito acima,
Eu sou apenas um batiscafo.

 

Escrito originalmente em: 21/07/1990 às 13h33

Poema do livro ENQUANTO A ARANHA TECE SUA TEIA DE CRISTAL , Ed: abril, Havana, 1994. Autor: Felipe Chibás Ortiz.