TRITURADOR DE PAPEL

Admita

faz até bem para o coração

que coisas absolutamente essenciais

já não te pertencem

 —

Até daquele último telefonema

você já se esqueceu

e também está perdido para sempre

o endereço escrito na agenda

que há muito foi engolida

pela boca metálica e sem saliva

de um velho triturador de papel.

 

* Décima-terceira poesia da Série Peras Vermelhas, de Marcelo Lapuente Mahl, escritor, pesquisador e professor da Universidade Federal de Uberlândia (MG).