Este artigo aborda como é atualizado, no Grande sertão: veredas, um motivo fundamental para a tragédia Rei Lear: a escolha amorosa envolvendo três mulheres relacionadas ao ouro, à prata e ao chumbo. A simbologia subjacente aos metais é determinante para a caracterização das personagens femininas tanto do romance quanto da tragédia, analisadas, aqui, em perspectiva comparativa. Em Rei Lear, os metais preciosos, o ouro e a prata, estão associados a Goneril e Reagan, as filhas más que herdam o reino, enquanto Cordélia, a filha bondosa e preferida do rei, é representada pelo chumbo e acaba deserdada. Em Grande sertão: veredas, o ouro e a prata figuram na caracterização de Nhorinhá, a prostituta por quem Riobaldo se apaixona, e Otacília, sua esposa, enquanto Diadorim, o verdadeiro amor, está relacionado ao chumbo e permanece sublimado. Assim, os metais preciosos simbolizam, em ambas as obras, o equívoco amoroso, enquanto o chumbo guarda a mulher certa – Cordélia na tragédia, e Diadorim no romance. Diadorim e Cordélia possuem, ainda, outras analogias: ambas são filhas de grandes líderes, dedicam fidelidade irrestrita ao pai, possuem ligação com o arquétipo da donzela-guerreira e suas mortes representam momentos de anagnórisis para Riobaldo e Lear.
Lélio, protagonista da novela “A estória de Lélio e Lina”, de Guimarães Rosa, inicia o seu processo de individuação através da busca pela imago paterna, que se encontra ocultada no elemento feminino, representado pelas mulheres mais importantes do texto - Sinhá-Linda, Jiní e dona Rosalina, que, juntas, compõem a anima do herói. Após difíceis provações afetivas na Fazenda do Pinhém, ele finalmente atinge a maturidade.
Em “Estória Nº3” encontramos três personagens enredados: o terrível Ipanemão bate à porta do casal
Joãoquerque e Mira. O homem foge, enquanto a mulher aguarda o bandido. Mas, no quintal da casa, Joãoquerque pensa em Mira e acaba por assimilar o caráter de Ipanemão, transformando-se num homem destemido que mata o rival. Calcado na psicologia junguiana, pretendo demonstrar que Ipanemão
representa a sombra de Joãoquerque, ao passo que Mira desempenha a função de anima do herói, o aspecto feminino e auxiliador da psique.
Objetivo mostrar, neste artigo, como se dá a individuação, na perspectiva junguiana, das personagens do conto “Substância”, Sionésio e Maria Exita, mediante a conjunção dos opostos que o casal representa. Através do polvilho, aqui, o elemento conciliador das dicotomias, Sionésio e Maria Exita atingem a totalidade, ou seja, a união harmoniosa das naturezas antinômicas, possível após a experiência conjunta das personagens, quando Maria Exita labutava na dura lida com o amido e, como que influenciado pelo aspecto numinoso do polvilho, Sionésio pede a moça em casamento.
Este artigo propõe uma leitura do pacto diabólico no Grande sertão: veredas a partir de alguns dos numerosos “causos” que perpassam a narrativa, cuja constante são as “trocas de destino” ou “conversões existenciais” que se dão de forma assimétrica: um indivíduo de caráter ou condição social dominante imputa os reveses de sua sina a um subordinado. As ligações entre as estórias paralelas e o macrocosmo do livro vão na esteira de estudos de Todorov e de críticos que se ocuparam do tema no romance de Guimarães Rosa, como Davi Arrigucci Jr, Kathrin Rosenfield, Marcus Mazzari etc. Também são feitas considerações acerca da confiabilidade do relato riobaldiano e do seu viés “metaficcional”, a partir dos estudos literários de Jacques Rancière.
O artigo propõe uma leitura da estória de Maria Mutema, espécie de conto incrustado no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, enfocando o desenvolvimento do tema do duplo, discernível nas relações entre os personagens Maria Mutema, o marido assassinado, Padre Ponte e Maria do Padre, cujos destinos são enfeixados por um “pacto de silêncio”.