Em um país continental como o Brasil, o território contribui na formação de variadas identidades ligadas aos diferentes espaços que compõem a realidade nacional. A tradição literária, ao conferir tratamento estético a tais formações identitárias, elaboram mitos que estruturam o imaginário social referente à noção de brasilidade. Dentre os mitos assim produzidos, o do sertanejo é central tanto para questão da identidade nacional como para o desenvolvimento da tradição literária. Este trabalho aborda a evolução desse signo a partir da análise de obras características de diferentes momentos do sistema literário brasileiro: Os Sertões, de Euclides da Cunha; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; O rio e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto e Essa Terra, de Antônio Torres. A pesquisa revelou que a representação literária fratura a categoria sertanejo em dois gêneros segundo os diferentes roteiros migratórios que eles realizam: o “sertanejo errante” e o “sertanejo retirante”.
Ao analisar como a narrativa de Riobaldo, narrador-protagonista de Grande Sertão: Veredas, deixa entrever as oscilações na trajetória de uma individualidade que busca reconhecer-se como tal, assim como superar as imposições de uma mentalidade de grupo (representada, no livro, pelas figuras dos jagunços e de seus chefes), este trabalho pretende fazer aproximações do romance de Guimarães Rosa com a poesia de William Blake, em Marriage Between Heaven and Hell,e o pensamento do filósofo Max Stirner, sempre tendo em vista os mecanismos utilizados pelo ego consciente para a obtenção da liberdade individual.