Doutorado em Ciências Sociais / Área de Concentração: Cultura e Sociedade
A porta do sertão aberta pela Tese é magica, festiva, poética, triste, árida, mítica; é construída com rimas, sonhos, cores, santos, demônios, pedras, morte e vida. Evoca a música que vem dos tambores, dos pífanos, das violas e das rabecas. Exibe trajes com bordados coloridos, da chita, do couro trabalhado dos gibões, dos mantos dos reis, das composições bricoladas com retalhos e fitas coloridas. O sertão apresentado ressalta a riqueza excessiva de um imaginário repleto de animais bizarros, anjos, demônios, e homens que sentam à mesma mesa, numa espécie de confraria mágica. Trata-se de um sertão que se mostra por meio de uma vegetação quase rasteira, formando uma massa ocre-terra, ocre-vegetação, que se estende e oprime os fios de espelhos d´água que insistem em correr entre as terras secas. É desse contraste que nasce a estética do sertão: das imagens plásticas e poéticas que o homem sertanejo cria como elementos que complementam ou rivalizam com a geografia árida. Os suportes teóricos da Tese vem da obra de Edgar Morin e de Claude Levi-Strauss. Da literatura traz as vozes de José Lins do Rêgo, João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Da estética, como filosofia, recruta as reflexões de Erwin Panofsky e Clement Greenberg. O estilo narrativo do texto assume a rima dos cantadores de cordel e poetas populares, no ângulo criador do homem e da natureza do sertão. A ideias e argumentos se relacionam num tempo não-linear, num tempo mítico. Como o romanceiro medieval, a narrativa é repleta de relatos que atestam o hibridismo entre os domínios do real e do fantástico. Discute-se aqui como arguemnto central a relação de oposição e complementaridade entre falta e excesso, padrão e variação, contingência e criação que constituem a estética do sertão