O animal habitou o primeiro círculo relacional do homem em sua
relação com o mundo, tanto em forma de carne e couro, como sob o manto da
magia. Povoa, também, o imaginário primitivo, tal como o contemporâneo,
consistindo em uma de suas primeiras metáforas, ademais é tema recorrente
na história das representações. Nesse contexto, o prisma literário disseca e
expõe o espectro da besta entranhado no homem. Valendo-se, a literatura, de
um raciocínio analógico sob essa relação, a presente pesquisa propõe a análise
das representações de animais na obra “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães
Rosa, a partir do diálogo com produções literárias e filosóficas, tendo como
referencial teórico os estudos de Agamben (2002), Bataille (1993), Deleuze;
Guattari (2012), Derrida (2002), Maciel (2008; 2011), entre outros.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
Esta dissertação investiga a presença do canto das sereias homéricas em “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães Rosa, tendo como referencial teórico os estudos de Blanchot (2005), Oliveira (2008),), Agamben (2014) e Nogueira (2014), dentre outros. Na esteira da interpretação blanchotiana, que traça uma analogia entre o canto das sereias e o fazer literário, todo escritor repetiria o feito da personagem homérica, uma vez que a narrativa é um movimento imprevisível e infinito de busca, que presentifica a navegação do canto real ao canto imaginário. Questionamos se há uma retomada do canto das sereias na narrativa estudada, com o objetivo de elencar como isto se dá e qual o seu significado, partindo da hipótese de que o canto jaguanhenhém irrompe da experiência liminar de metamorfose entre voz/canto humano e inumano; português, tupi e ruído animal; língua articulada e não articulada. A conclusão a que chegamos, após a análise, é a de que, nesta narrativa roseana, encena-se o gesto do próprio ato de narrar, em uma linguagem entre humano-inumano, no processo de encantamento, sedução e perdição da tríade autor-narrador-leitor.