Como a escrita “barroca” de Guimarães Rosa transparece no seu livro de contos Tutameia, publicado originalmente em 1967 no Brasil, retrabalhada para o francês pelo tradutor Jacques Thiériot? Neste artigo, examino os mecanismos e desafios estilísticos da tradução francesa de vários contos do livro Toutaméia, publicado pela editora Seuil em 1994.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas
A pesquisa presente realça as variações das traduções franesas, de 1910 até 2004, de oito contos dos escritores brasileiros Machado de Assis e Guimarães Rosa. A partir de um corpus de oito contos (quatro de cada autor), confrontamos os trabalhos de doze tradutores, de acordo com a metodologia de Berman. Definimos, primeiramente, os problemas encontrados na tradução e na retradução, expondo suas principais teorias na França, do século XVI até os dias de hoje. Em seguida, estudamos as relações literárias França-Brasil e a recepção das obras brasileiras na França, assim como o "horizonte das traduções". Na segunda parte, apresentamos os "sistematismos" da escrita de Machado (a distância para com o realismo e a presença do narrador no texto) e os "intraduzíveis" de Guimarães Rosa (o particular e o universal bem como a língua recriada), mostrando como os tradutores resolveram esses "particularismos". Depois de ter apresentado os primeiros tradutores, que apresentam, geralmente, uma tendência "etnocêntrica" e estão sempre prontos para "naturalizar" a obra, e, em seguida os retradutores, com uma tendência "estrangeirizante" e "literalizante", investigamos, a partir dos textos, os seus "projetos de tradução", suas "éticas", suas "posições tradutivas" e suas "bibliotecas imaginárias". Enfim, comparamos nos dois autores a maneira como os aforismos, as expressões do popular e da loucura são traduzidos. Este trabalho mostra a variedade de tons e sentidos dados a um texto original, na medida em que cada tradutor materializa diferentes sentidos possíveis da obra faz com que ela tenda a ser retraduzida.