Sabendo da plena consciência de Guimarães Rosa de que um autor deve explorar a originalidade da expressão linguística, fazendo com que ela seja capaz de exercer seu poder para atuar sobre os homens, este artigo tem o intuito de, através da descrição dos procedimentos enunciativos adotados pelo autor mineiro em sua narrativa Campo Geral, demonstrar como a língua se firma, em seu texto, não conforme um espelho da realidade, tampouco como um instrumento de representação dos fatos, mas como forma de ação sobre o próprio homem. A ideia é identificar as estratégias adotadas pelo enunciador para a configuração da afetividade que envolve esse discurso. Para isso, a análise de três dimensões da narrativa serão privilegiadas: a tensiva, a discursiva e a textual.
Com base nos apontamentos feitos por Luiz Tatit nas análises realizadas em seu livro Semiótica à luz de Guimarães Rosa, e também em outros textos seus, nosso intuito é o de examinar e descrever a configuração tensiva que subjaz ao conto “A menina de lá”. Interessa explicitar as operações sintáxicas que estão na base da estruturação narrativa e discursiva da trama e que, por isso mesmo, respondem pela sua força de convocação sensível-inteligível. Ao que nos parece, por meio da construção das personagens dessa narrativa, Rosa traz valiosas contribuições acerca das condições que regulam a interação entre os sujeitos.
Entendendo o texto literário como um campo de presença a partir do qual emerge a interação afetiva entre o sujeito-enunciatário-leitor e os sujeitos do enunciado, as personagens, a intenção do presente artigo é a de mostrar que mesmo os efeitos de sentido patêmicos produzidos sobre o leitor no momento da leitura são passíveis de uma análise semiótica. Nesse sentido, interessa chamar a atenção para o fato de os procedimentos de discursivização e de textualização, enquanto meios de manipulação do acesso do enunciatário aos valores veiculados pelo texto, permitirem a depreensão não só da estruturação semântico-sintáxica do texto a partir de determinada linguagem, mas também das modulações tensivas que sensibilizam o conteúdo transmitido, patemizando de modo específico a leitura do enunciatário, a interação que ele estabelece com os atores do enunciado. Para mostrar como isso se dá, examinaremos as estratégias enunciativas adotadas no conto “Conversa de bois”, de Guimarães Rosa.