Trata-se de uma reflexão sobre o gênero da literatura de viagem, visto sob a forma de nomadismo enquanto operador cognitivo do método poético-científico de Guimarães Rosa em O Recado do Morro, uma das narrativas de Corpo de Baile(1956). São planos diferentes de viagem: a realizada pelo autor ao cruzar o sertão mineiro, especialmente o Morro da Garça e a Gruta de Maquiné; a da expedição ficcional e a do próprio recado do Morro, fórmula mágica cifrada, em sua movência espácio-temporal.
A partir dos pressupostos teóricos sobre a natureza do ficcional à luz de pensadores diversos como Wolfgang Iser, Huizinga, Zumthor e Juan José Saer, procuraremos refletir sobre o ficcional-literário a partir de seus fundamentos antropológicos, seja a plasticidade e o jogo (Iser, Huizinga), seja a voz (Zumthor) ou a especulação entre realidade-irrealidade (Saer), para, num segundo momento, podermos confrontar esses pressupostos teóricos com a configuração do efeito estético em duas narrativas de dois dos maiores escritores brasileiros: Machado de Assis e Guimarães Rosa.