O presente artigo apresenta um estudo comparativo entre os romances A Montanha Mágica, de Thomas Mann, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Investiga a relação que os respectivos protagonistas mantêm com os espaços naturais representados nas duas obras e a relevância de tal relação para a reflexão ética desenvolvida nos textos.
O artigo discute a função e o valor da pesquisa documental em arquivos literários para a percepção da literatura como voz discursiva no interior de uma comunidade de comunicação. Para tanto, parte-se da idéia central de Karl-Otto Apel de que a constituição de sentido corresponde a uma posição assumida em um determinado espaço comunicativo que existe a priori e que pode ser questionado através da dimensão estética da linguagem. Como exemplos, o artigo apresenta os resultados de dois estudos, um sobre Paul Celan, outro sobre Guimarães Rosa, em que a pesquisa documental não se perdeu em seu caráter necessariamente filológico, mas ofereceu a possibilida- de de reconstruir a sagacidade discursiva própria da literatura: no primeiro, o método proposto reconstrói a voz da poesia como acusação da shoah e contínua defesa do humano; no segundo, revela a crítica rosiana em relação às culpas e omissões do Bra- sil no mesmo período histórico.
O artigo fundamenta a abordagem do espaço literário como elemento composicional particularmente atento à percepção do entorno pelas personagens. Define espaço literário e revisita, sob esse aspecto, o motivo da travessia no romance Grande sertão: veredas.
O artigo a presenta exemplos da recepção da cultura alemã por João Guimarães Rosa, com base em declarações do escritor e documentos e anotações disponíveis no Instituto de Estudos Brasileiros (USP). Problematiza a postura assumida por Rosa diante da Alemanha, tendo em vista o fato biográfico de sua atuação como diplomata em Hamburgo, entre 1938 e 1942, e a clara remissão a esse fato em três contos publicados em Ave, palavra. As referências sempre elogiosas à cultura alemã e a parcimônia nas manifestações sobre o nazismo, por parte de Rosa, são curiosamente suspensas nos aqui chamados "contos ale mães" ("O mau humor de Wotan", "A senhora dos segredos" e "A velha"). Os textos são marcados pelo olhar crítico e a uto-reflexivo de um diplomata brasileiro e m Hamburgo, que nos três contos aparece como narrador-personagem. Destaca-se aí o problema da concessão de vistos de imigração pelo Estado brasileiro, capítulo delicado de nossa história, vivi do de perto pelo autor de Grande sertão: veredas.