O artigo a presenta exemplos da recepção da cultura alemã por João Guimarães Rosa, com base em declarações do escritor e documentos e anotações disponíveis no Instituto de Estudos Brasileiros (USP). Problematiza a postura assumida por Rosa diante da Alemanha, tendo em vista o fato biográfico de sua atuação como diplomata em Hamburgo, entre 1938 e 1942, e a clara remissão a esse fato em três contos publicados em Ave, palavra. As referências sempre elogiosas à cultura alemã e a parcimônia nas manifestações sobre o nazismo, por parte de Rosa, são curiosamente suspensas nos aqui chamados "contos ale mães" ("O mau humor de Wotan", "A senhora dos segredos" e "A velha"). Os textos são marcados pelo olhar crítico e a uto-reflexivo de um diplomata brasileiro e m Hamburgo, que nos três contos aparece como narrador-personagem. Destaca-se aí o problema da concessão de vistos de imigração pelo Estado brasileiro, capítulo delicado de nossa história, vivi do de perto pelo autor de Grande sertão: veredas.
Traduzir "Meu tio o iauaretê" para o espanhol foi o ponto de partida des te ensaio. A experiência da trad ução revelou à a u tora a com plexa elaboração d e uma língua artificial que o autor cria para o seu narrador: ao mesmo tempo em que mostra a sua cultura misturada, como a sua língua, oculta significados na linguagem aparentemente interjetiva e onomatopéica domestiço. A língua artificial mente criada pelo autor constitui-se na representação da complexidade da existência do narrador e as contradições insuperáveis da sua situação. O ensa i o analisa o processo de criação da "língua d o iauaretê", a posição de Guimarães Rosa a respeito da cultura indíge na, a possível vinculação com Hombres de maíz de M.A. Asturias e com José María Arguedas, e a dívida e homenagem ao indianismo de Gonçalves Dias.
A proposta é de um estudo das imagens fundamentais de Grande sertão: veredas, à luz das idéias de Giambatista Vico. Com efeito, nesse movimento de nomear que constitui fundamentalmente a poesia, o filósofo napolitano mostra o processo em que se efetiva uma projeção do corpo humano e das "humanas paixões" sobre a paisagem circundante, tendo por base a analogia. Pois bem, é essa sensorialidade do fazer poético que se pode apontar no romance de Guimarães Rosa, em que, do rio ao sertão, aos buritis e a todas as demais "quisquilhas da natureza", é a metáfora que dá "sentimento e paixão" às coisas inanimadas. E toda a orquestração das imagens da natureza obedecerá ao poderoso impulso que atrai Riobaldo a Diadorim.
Este trabalho tem como objetivo a nalisar em Magma, único livro de poemas de Guimarães Rosa, o lirismo telúrico rosiano, enquanto sentimento de integração e louvor à terra, a partir da leitura de poemas como "Águas da Serra", "Ritmos selvagens", "Boiada", "No Araguaia", "Toada da chuva", "Gruta do Maquiné", "Primavera na serra" e outros, que captam e revelam motivos, cores, sons e sensações de um concerto poético da natureza em seu simples e profundo existir.
O ponto de partida do ensaio é o diálogo de João Guimarães Rosa com Edoardo Bizzarri, tradutor italiano de Corpo de baile, acerca de uma única página "intraduzível " desse imenso livro de novelas. Veremos que tal página contém a fala de um "doido", o Chefe Ezequiel, que ouve e distingue coisas incompreensíveis para os demais: a linguagem da noite. Dotado de uma percepção aguçada, ele fala uma língua estranha, de conteúdos enigmáticos, freqüentemente atribuindo outros nomes para as coisas e novos significados para os nomes, ou simplesmente criando nomes motivados por inusitadas sinestesias. Brincando com a linha tênue e arbitrária que distingue as coisas do mundo, é essa linguagem obscura que desconcerta a tradução da novela "Buriti ".
“Na terceira margem do rio”, de Primeiras estórias, o ato radical de um homem que se muda para o meio do rio interroga a normalidade e incita o filho a seguir o mesmo percurso, lançando-se ao mesmo paradoxo: partida e permanência num não-lugar. O mito, inillo tempore, revém mediado nessa narrativa sob uma tônica trágica, quan do o homem não é dono de seu destino. O trânsito para essa terceira margem suspende a História, sem reverter, entretanto, uma situação sem saídas: a revelação mítica de uma outra esfera do real surge com o reposição de impasses e paralisia. Simultaneamente, para além das angústias pessoais daquele que não consegue seguir um caminho que se lhe a presenta obscuro e terrificante, o desenho de gestos análogos a ritos que não se completam parece apontar, no conto, para um contexto mais amplo.
O rio Amazonas, neste estudo, serve inicialmente de veículo simbólico, confluente com a imagem de uma espécie de "banda larga", em termos informacionais, de forma a configurar um campo discursivo sobre problemas político-sociais latino-americanos. São questões levantadas a partir do filme Diários de motocicleta, dirigido por Walter Salles, relacionadas com estratégias discursivas do conto "Orientação", de João Guimarães Rosa, do romance A jangada, de Júlio Verne, e do romance Dois irmãos, do amazonense Milton Hatoum. As aproximações, que se valerão das contribuições críticas do sociólogo peruano Mariátegui, entre outros, discutirão imagens do rio, fundamentais para a compreensão das travessias rosianas.
Considerando em paralelo os índices de Corpo de baile e de Tutaméia, o presente trabalho pretende colocar o problema da construção do livro na obra de Gu imarães Rosa. A reflexão sobre a relação entre livro, leitor e releitura proposta em Tutaméia através do desdo bramento dos índices e do trabalho sobre as epígrafes de Schopenhauer prolonga e desenvolve o questionamento que estava patente, de forma menos objetivada, em Corpo de baile. Ao mesmo tempo, o investimento na noção de "parábase" em Corpo de baile é transportado para o jogo com os "Prefácios" de Tutaméia. Coloca-se, nessas classificações, o problema da relação do limiar do livro com o livro, mas também a questão do investimento autoral de que esse espaço se reveste. Trata-se de indicações de (re)leitura que prescrevem e refletem os movimentos do leitor como elemento que possibilita a obra, espelhando a estrutura da relação narrador/ interlocutor encenada em vá rios textos de Guimarães Rosa. Através de uma comparação dos dois casos em análise, tentar-se-á delinear uma cartografia da releitura em Guimarães Rosa como forma de tornar "orgânica" (e viva) a forma do livro (e da escrita) enquanto representação de uma realidade perenemente "movente" e não concluída.
De como o caso de um "Assombrado amor" se esvaece em uma enunciação dissipadora que retarda e obscurece o factual graças a uma complexa rede de imprecisões. De como as ações dos personagens tornam-se imprecisas, prevalecendo o jogo de relance dos nomes como movimentação de signos: de Ricarda Rolandina a Rudimira; de Reis augusto a Revigildo; do Padre Roque ao Padre Peralto. E o nome Cristeléison, personagem cuja mendicância funciona como a "casa vazia", na expressão de Deleuze, promovendo a circulação dos actantes. De como ao leitor resta apenas (e é tudo!) a busca do que se passa nos desvãos do enunciado, cuja desconstrução só permite a ancoragem num significado "excentrado em transparência". E de como o amor é sorvido pelo abismo do "nunca", que tem como metáfora a peça defeituosa do "Retábulo de São Nunca".
Depositária de uma cultura peculiar, em que a linguagem transgressiva (mescla de traços arcaicos e modernos) reconstrói e preserva uma parte do Brasil, a rural, a produção de Guimarães Rosa estabelece um a constante tensão entre a permanência e a mudança, a lembrança e o esquecimento. Considerando, entre os suportes teóricos, aspectos psicanalíticos, o intento é revisitar episódios que capturam e transfiguram, literariamente, faces do jaguncismo (vigoroso ou 'decadente') em "A hora e vez de Augusto Matraga" (Sagarana), Grande sertão: veredas e Primeiras estórias, graças a processos mnêmicos cuja presença se insinu tanto no texto, quanto fora dele, ou seja, as anotações que antecedem a obra e sua recepção posterior, tal como atestam as releituras de Antunes Filho (teatro) e de Pedro Bial (cinema).
Analisam os a narrativa fílmica de Pedro Bial Outras estórias que retoma cinco contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O enfoque da análise são os motivos casamento e velório, que figurativizam os valores universais vida/morte, e o espaço do sertão. A partir desse recorte, propomos uma leitura que pretende demonstrar como o texto de Bial constrói a Cinderela do sertão mineiro.
Com base no tratamento que Guimarães Rosa dá à linguagem em sua obra, e particularmente no Grande sertão: veredas, desenvolvemos neste ensaio algumas reflexões acerca do sentido e função da "revolução linguística" empreendida pelo autor e da atuação dessa "revolução" sobre a figura do leitor, que passa a ser visto como um copartícipe do processo criador.
Leitura de aspectos da cultura popular, presentes no processo de construção ficcional de Guimarães Rosa, o “contista de contos críticos”, que confessara: "Não preciso inventar contos, eles vêm até mim”. Pela alquimia da palavra em seu estado primitivo, a fusão do real e ficcional com o obsessiva defesa de que "a legítima literatura deve ser vida". A multiplicação do imaginário rural mineiro na narrativa rosiana, especificamente, em contos de Tutaméia e Ave, Palavra. Historia e estória no cotidiano do povo do sertão mineiro. Pelo jogo da memória narrativa popular, a construção da identidade cultural sertaneja e a recriação do mito: "No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou o tu: por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua".
A década de 1950 é apontada pela historiografia literária como responsável pela criação literária paradigmática de uma tradição poética e narrativa, cuja acentuação pelas formas orais, pela extravagância, pela vocalidade, pela movência dos textos, pelo caráter artesanal da comunicação, promove um deslocamento cultural e existencial do narrador/poeta, em relação às técnicas industriais. Esse choque cultural e existencial vai gerar os versos e "estórias" mais estrambóticos da literatura brasileira: de um lado, a tradição do ethos lúdico, da configuração mítica, da alegoria; de outro, a exigência de um leitor experto. Esse viés estrambótico perpassa toda a obra de Guimarães Rosa.
O ensaio examina se uma possível leitura do poema "Haft Peikar" ("As sete efígies") de Nezami, poeta persa do século XII, pode ter sido fonte de inspiração para a elaboração, por Guimarães Rosa, de sua obra Corpo de baile.
O presente texto avalia alguns aspectos de manifestação das emoções na linguagem, a partir de dois processos de construção de narrativas: o primeiro parâmetro está centrado no contraste entre factum e fictum e o segundo, no contraste entre mundo possível e mundo vivido, destacando-se as modalizações de dicto e de re no interi or desses mundos. A título de ilustração, o texto incorpora exemplos dos contos "Famigerado" e "Desenredo", de Guimarães Rosa.
Responsável pela arquitetura narrativa de Grande sertão: veredas, o narrador Riobaldo conduz o jogo dialógico de modo a criar um vaivém discursivo que possibilita a detecção pontual de segmentos pertencentes à ordem do discurso e à ordem da história (respectivamente, mundo comentado e mundo narrado, segundo Harald Weinrich). Permeando um e outro mundo, estão as obsessões fundamentais do narrador, das quais destacamos aquela relativa à existência ou não do diabo. As ambiguidades derivadas desse movimento oscilante entre o ser e o não-ser provocam ainda o deslizamento entre o real e o irreal, o dito e o não-dito, o aparente e o oculto, o dado e o suposto. A coerência, no entanto, é reconstituída no alinhavado constante de vários recursos argumentativos que buscam a adesão do interlocutor, cuja voz só é entre ou vida pela voz do narrador. Nesses casos, verificamos a presença do recurso ao argumento de autoridade, seja pela competência, seja pela experiência, seja, ainda, pelo testemunho. É, pois, nesses momentos de interlocução semiexplícita, na instância da enunciação, que se apresentam, com maior nitidez, elementos linguísticos denunciadores das estratégias argumentativas que provocam e incitam o interlocutor/leitor a acompanhar esse "narrar dificultoso” e a finalmente concordar que “O diabo não há!... Existe é homem humano”.
Este trabalho desenvolve o tema das duas epígrafes tiradas de A divina comédia e usadas no Capítulo III, da segunda parte, de meu livro O Brasil de Rosa: o amor e o poder. Nele procuro mostrar as variações do tema da vida amorosa no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
A partir dos concei tos de "ilusão de falsidade", "imaginação raciocinada" e "rede", analisamos o potencial filosófico e científico d o texto literário de João Guimarães Rosa. Considerando que num relato podem ser expressos pensamentos tão difíceis e abstratos como numa obra filosófica, mas com a condição de que pareçam falsos, problematizamos a velha dicotomia realidade/ficção, em favor de uma recepção hipertextual que permita transpor as fronteiras disciplinares e reduzir a ignorância recíproca ent re artes, ciências e filosofias.
O trabalho estuda personagens e ação de quatro contos da coletânea Primeiras estórias de Guimarães Rosa, aproximando-os da adaptação dessas narrativas realizada por Pedro Bial no filme intitulado Outras estórias. O objetivo é comprovar a hipótese de que determinados protagonistas dessas composições, de um lado, constituem retomadas de arquétipos fixados no nosso imaginário cultural e, de outro, refletem as condições sociais do país. O elemento principal entre aqueles que Pedro Bial toma para estabelecer a relação entre os textos que compõem o filme, de modo a formarem uma narrativa unificada, é representado justamente pelas personagens. Entre os protagonistas/arquétipos a serem examinados estão o valentão, o rei sábio, a cinderela.
Abordagem do jogo entre desejo e repressão no percurso pelos tortuosos caminhos que cond u zem de Eros para Tanatos na relação de Riobaldo e Diadorim, personagens de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Importância do controle de Eros - manifesto como caminho no sentid o da vida - para o bom andamento das rela ções do grupo. Tanatos - movimento que nega a vida- e a anulação dos impulsos naturais através da violência e da rejeição. O código ético do sertão. A força da diferença na determinação da sexu al i dad e. Tabu e vergonha de amar. Mascaramento do saber pelas armadilhas do olhar. O objeto do desejo e o falseamento do visto. O ver e o saber ver. Amor, ciência e segredo.
Confronto GSV e Mau tempo no Canal de Vitorino Nemésio. Aparente mente muito dissemelhantes, pertencem à grande linhagem das obras qu e discutem as relações do homem com as forças que o superam. MTC tem mais vínculos com O Livro de Jonas, Moby Dick e a tragédia clássica; GSV está mais próximo d o Livro de Jó e da espiritualidade cristã.
Este trabalho enfoca uma viagem ao sertão minei ro, realizada por um na turalista europeu , cuja meta é investigar potencialidades paleonto lógicas e topológicas de grutas e paisagens da região. Durante o per curso, o viaja nte acaba por confrontar-se com uma diversidade hu mana insuspeitada. Abrem-se trilhas, labirintos, passagens para vári as temporalidades e geog rafias; ademais, nesse universo onde todos são estrangeiros uns aos outros, aflora paradoxalmente uma espécie de língua sagrada que parece nortear-se pelo princípio edênico de inteligibilidade universal, com iconicidade e virtualidades poético-musicais avizinhadas ao ideal de língua pura a que aspiram tradutores, poesia e poetas. O "recado" do morro, m etonímia de um alerta mais amplo, deixa-nos um legado e uma indagação. É isso que pretende m os examinar neste "Legado de Rosa", baseado na novela "O recado do morro", uma das se te que compõem o Corpo de baile, de Guima rães Rosa.
Na sociedade primitiva, é o mito que marca o início e a origem das coisas. É por meio dele que o homem toma consciência de sua condição humana, do estar-no mundo e ser-para-a morte. A partir dele, nomeia e dá vida ao que o cerca. Pelos tempos afora, o mito transcen deu se u sentido preferencial pela oralidade, a audição- hoje, nos atingi ndo por todos os demais. A mídia moderna oferece-nos, cons tanteme nte, releituras de histórias atemporais. Rosa, pela palavra es crita renovada, recria o mito com todas as suas funções originais. Com isso interfere no mito original de tal modo que, mais que influ enciado por ele, o novo conto qu ebra as cadeias do tempo e influen cia o própri o mito. O "diabólico" em sua dimensão mítica atravessa a ficção de Guimarães Rosa.
Este texto apresenta primeiramente um conjunto de hipóteses teóricas sobre as relações estabelecidas entre linguagem e emoção, fundamentadas em categorias oriundas da retórica, da pragmática e da análise do discurso. Em seguida, tais hipóteses são aplicadas na análise do conto de Tutaméia acima referido, com vistas a verificar a sua operacionalidade.
Guimarães Rosa sustém, nas estranhas alianças da sua linguagem, pelo menos dois grandes regimes expressivos do mundo: de um lado, adensa quadros concretos de gente e lugar, de fatos e falas e, de outro, faz deslizar forças por entre os corpos-sutis vibrações que distinguem e definem os "acontecimentos" (os seres e seu s inevitáveis enredos). Procuraremos demonstrar que Guimarães Rosa, no movimento sui generis da sua escrita do mundo, e em meio às inúmeras determinações virtuais que cruzam "o acontecer das coisas", faz emergirem corpos vibrantes, investidos de signos e em permanente devir.
Há muitas linhas de análise da obra de João Guimarães Rosa. Uma que não tem sido proposta, a n ão ser em meu artigo sobre "Meu tio, o iauaretê" [o uso da língua tupi foi comentado por Haroldo de Campos e pela tradutora do conto para o espanhol, só por ocasião do III Encontro Guimarães Rosa], é a vertente do conhecimento indígena. Na medida em que em Grande sertão: veredas Riobaldo se preocupa em definir o diabo e o mal, para negar o mal e o diabo, existe pelo menos este sinal de uma busca correspondente à cosmogonia e uto pia indígenas: a busca da Terra sem Mal. Parto por um lado de registros de etnólogos sobre a busca da Terra sem Mal por indígenas tupiguarani, assim como de poemas e mitos colhidos entre esta e outras etnias, e, por outro lado, ancorada no desejo de Riobaldo de levar a todos que conhece para um lugar desconhecido por ele, um lugar sem Mal, assim como baseada em outras cenas do romance, apresentarei o paralelismo entre seu anseio de salvar, em primeiro lugar, seus companheiros, mas também seus conhecidos isto é, sua utopia e o mito indígena.
Numa passagem de Grande sertão: veredas, Riobaldo fala de uma "sonhice" que teve: "Diadorim passando por debaixo do arco-íris". Vinte anos antes, em Magma, Rosa escreveu um conjunto de sete poemas, cujos títulos denunciam a presença do arco-íris e ativam sentidos que tal fenômeno carrega. Entender alguns destes sentidos, mostrando como as cores funcionam na vida e na lite ratura, é o que quer o prese nte artigo. Para isso, analisam-se o poema "Vermelho" e a referida passagem-sonho como indicadores de um pensamento sobre a sexualidade.
Bastante conhecida por seu olhar míope (mas poucas vezes em baçado!), a personagem Miguilim, de "Campo geral", apreende o mundo sobretudo através de seu corpo, isto é, da visão das pequenas coisas, de cheiros, toques e sons. Em nossa leitura da novela, examina remos o fluxo dessa experiência sensória em sua relação com o próprio corpo da linguagem rosiana. Nesse caso, será analisada outra característica fundamental de Miguilim: a sua atividade como contador de estórias. Esta, além de criar sentidos para as percepções sensoriais da personagem, vai se constituindo como um modo de enfrentar os reveses de uma infância ma rcada por dúvidas intensas, pelo medo e pela morte.
O presente trabalho, resultado parcial da pesquisa que desenvolvo em meu Mestrado, vem abordar alguns questionamentos sobre a leitura que acredito serem intrínsecos a Grande sertão:veredas. Através de uma analogia entre o narratário, ou seja o visitante para quem Riobaldo conta sua história, e o leitor empírico da obra, abordo o romance rosiano como uma narrativa que reflete metalinguisticamente sobre a problemática da leitura. A partir dessa idéia, passo a a nalisar que tipo de leitura nos propõe o protagonista do romance.