Este trabalho faz uma análise do conto “A partida do audaz navegante”, de Guimarães Rosa, tendo como fio condutor o universo mágico da infância. O objetivo é refletir sobre a construção do pensamento mágico-poético no discurso do narrador e das personagens crianças; apreender a construção e a desconstrução do universo poético-maravilhoso nessas narrativas rosianas, assim como analisar o vínculo entre a enunciação do narrador e a das personagens infantis, ressaltando o encantamento e o desencantamento. A fundamentação teórica baseia-se em concepções de Roland Barthes sobre a leitura e a escritura. O estudo evidenciou que, em um contexto em que a criança raramente tem sua voz própria, Rosa dilui seu discurso e o seu olhar poético ao do narrador e das personagens, tornando-o quase indissociável do discurso infantil, está intimamente relacionado com experiências mágicas, construídas, por sua vez, em universo poético-maravilhoso.
Esta dissertação trata do universo mágico da infância em João Guimarães Rosa, mais especificamente nas narrativas Partida do audaz navegante, publicada em 1962, Fita verde no cabelo, em 1970, e Campo Geral, em 1964. Entre seus objetivos, destacam-se: refletir sobre a construção do pensamento mágico-poético no discurso do narrador e das personagens crianças; apreender a construção e a desconstrução do universo poético-maravilhoso nessas narrativas rosianas, assim como analisar o vínculo entre a enunciação do narrador e a das personagens infantis, ressaltando o encantamento e o desencantamento. Para atingir tais objetivos, orienta-se pela seguinte problematização: até que ponto narrativas de João Guimarães Rosa operam o encantamento e o desencantamento de maneira a atribuir sentido ao rito de passagem da vida infantil à vida adulta? Como as sutilezas que diferem e separam a linguagem da infância da linguagem da vida adulta implicam ações mágico-poéticas nessa ficção? A fundamentação teórica baseia-se em concepções sobre o maravilhoso propostas por Todorov, Mieletinski e Propp; sobre o imaginário, recorre a Baudelaire e Bachelard; para refletir acerca do literário e da criança, vale-se de Walter Benjamin. A fortuna crítica sobre o autor é sustentada na voz de Henriqueta Lisboa, Benedito Nunes, Paulo Rónai. O estudo do corpus evidenciou, entre outras considerações, que Rosa dilui seu discurso e o seu olhar poético ao do narrador e das personagens, tornando-o quase indissociável do discurso infantil; que o rito de passagem, vivenciado pelas personagens, está intimamente relacionado com experiências mágicas, construídas, por sua vez, em universo poético-maravilhoso.