O presente artigo tem como objetivo analisar a construção discursiva do corpo feminino na representação literária de donzela-guerreira, e como esse corrobora para a desnaturalização do sexo e para a ruptura dos padrões de gênero. Dessa maneira, observamos a presença da donzela na tradição ocidental, passando pela literatura brasileira até sua aparição nos romances Luzia-Homem (1903), de Domingos Olímpio; Dona Guidinha do Poço (1965), de Manuel Paiva, Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa e Memorial de Maria Moura, de 1992, de Raquel de Queiroz. A donzela-guerreira integra a literatura, as civilizações, as culturas, a história e a mitologia. Desse modo, a representação dessa mulher marca o imaginário de diversificadas culturas e possibilita repensamos os papéis da mulher em distintos momentos históricos. Buscamos compreender o corpo da donzela como elemento performativo para a construção de uma identidade feminina que dialoga com o masculino, assimilando seu discurso hegemônico para burlá-lo. A compreensão de performatividade aqui adotada é trazida por Butler (2008). Assim, as contribuições da autora são pertinentes, já que considera que o masculino e feminino não são categorias possuídas de antemão, mas efeitos que produzimos por meio da realização de ações específicas.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
A antevisão do primeiro contato de humanos com alienígenas é um dos temas frequentes da ficção científica, gênero literário que se propagou após as descobertas de Copérnico e Galileu. Nosso estudo investigará quando o contato desses seres com a ficção teve início e terá como foco, principalmente, a sua recorrência na ficção científica latino-americana. Acreditamos que o estudo do extraterrestre funcionará como uma metonímia da ficção científica, já que a compreensão desse ser irá nos auxiliar na compreensão da ficção científica como um todo. E, ao partir da análise de quatro contos – “Ma-Hôre” de Rachel de Queiroz (1961), “Um moço muito branco” de João Guimarães Rosa (1962), “A lula opta por sua tinta” de Adolfo Bioy Casares (1962) e “There are more things” de Jorge Luis Borges (1975) – buscaremos ainda entender a ficção científica no campo dos estudos literários e romper com a ideia de que ela é apenas mais uma literatura trivial.
Esta pesquisa sobre as adaptações dos romances nacionais para a TV, no formato minissérie, procurou apreender como os conceitos e as imagens do sertão e do jagunço na televisão plasmaram um regionalismo e, conseqüentemente, revelaram-se como uma forma particular de resgatar a brasilidade, a qual havia sucumbido ao processo de globalização que nos levou a cidadãos do mundo. Depois de percorrer as obras nacionais que foram para a TV e tiveram o sertão e o jagunço como temas, este estudo centrou-se nos romances Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, que marcaram um tempo (duas décadas, 80 e 90) de travessia do jagunço pelo sertão brasileiro na televisão nacional. A análise da,obra imagética permitiu acompanhar a construção dos conceitos e constatar a visão de mundo romântica de seus produtores. Não obstante, ao recriarem a obra original (literária) pelos recursos audiovisuais com um sentido realista, definindo o,regionalismo, eles afirmaram, pela especificidade da sua linguagem da TV, tanto a História quanto um modo de ser brasileiros. Esta ambigüidade foi reconhecida a partir de uma leitura dialética, isto é, por meio da ampliação de uma análise,compreensiva para uma análise explicativa, a qual permitiu que os romances e as sua recriações fossem inseridos numa estrutura mais ampla - o contexto histórico. O trabalho de produção ficcional da TV, em sua recorrência à literatura para falar,do Brasil, voltou às origens da ficção, valendo-se dos gêneros épico e dramático, que se interpenetraram e fizeram o telespectador participar de uma história de heróis, homens e mulheres de um passado cruel e violento de nossa História. O olhar para o passado se fez pelos resíduos que sobrevivem no mundo contemporâneo, tocando de perto a História do telespectador. Nesse percurso, o formato minissérie consolidou-se como um campo do experimento, do lírico e da memória. Por isso ) tudo, foi possível concluir que os autores fizeram um espetáculo socialmente produtivo e artístico.
A proposta principal deste trabalho é analisar a representação de animais e animalidade na literatura da brasileira sob a perspectiva dos Estudos Animais - área de pesquisa voltada para a compreensão de animalidade e animais enquanto seres vivos e imaginados. A análise se apresenta como um estudo temático e é organizada a partir da subdivisão do grande tema dos animais em oito ramificações temáticas: animais colonizados, animais idealizados, animais nacionais, animais domésticos, animais metafísicos, humanos animalizados, animais sujeitos e animais agentes. Estes subtemas exemplificam padrões culturais percebidos em obras literárias que datam desde o período colonial até a década de 1980, aproximadamente. O corpus selecionado para a presente análise se constitui de autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Alphonsus, Lúcio Cardoso, Rachel de Queiroz, José de Alencar, entre outros, totalizando cerca de cinquenta e cinco textos literários e documentais. Neste trabalho, utiliza-se uma metodologia histórico-comparativa que visa, também, propor uma reorganização da história da literatura brasileira sob um viés temático. Não existe aqui a ambição de realizar um trabalho de historiografia extensiva, mas sim aquela voltada para a organização de um corpus que apresenta assuntos afins. Os textos literários em questão são arranjados e analisados de acordo com o tema no qual estão inseridos, não seguindo, portanto, uma ordenação cronológica. Em cada uma das ramificações temáticas estabelece-se relações interpretativas que colocam textos pertencentes a diferentes movimentos literários e períodos históricos lado a lado, a fim de demonstrar o diálogo existente entre o conteúdo de textos literários e documentais diversos.