Este estudo busca evidenciar como a representação do feminino e masculino é desconstruída a partir da/do personagem Diadorim na obra Grande Sertão: Veredas (2001), de João Guimarães Rosa. Realizou-se inicialmente pesquisa bibliográfica sobre Desconstrução em Jacques Derrida (2008) e a concepção de gênero em Judith Butler (2008). Em função do contexto exposto pela pesquisa bibliográfica, foram selecionados trechos da obra de estudo, para averiguar de que maneira o feminino e o masculino são representados na/no personagem. A partir desse estudo, espera-se contribuir com a pesquisa na área, abrindo a perspectiva para aprofundarmos e complementarmos as discussões em relação aos conceitos mobilizados por Derrida, na perspectiva dos estudos da Desconstrução juntamente com a concepção de gênero exposta por Judith Butler. Espera-se contribuir para uma maior reflexão sobre a desconstrução, gênero e representação, levando em conta os espaços produzidos pela língua e as diferenças que as norteiam.
O presente artigo trata a respeito do campo simbólico e o modo como se estrutura no social a naturalização do que se concebe das categorias de gênero. Tendo como corpus a personagem Diadorim da narrativa roseana, compreendendo a representação de gênero em sua ação estratégica, rumo ao empoderamento de direitos, na luta por conquistas e empreendimentos no sociocultural. Para este trabalho, utilizou-se o arcabouço teórico dos seguintes autores: Sobre representação social: Denise Jodelet (2012), Serge Moscovici (2012); No que tange à desconstrução do gênero e demais discussões acerca dos estudos de gênero e feministas: Judith Butler (2014), Pierre Bourdieu (2014), Simone de Beauvoir (2001), entre outros.
João Guimarães Rosa, no cenário nacional e também externo, destacou-se pela primazia em traduzir em palavras o mundo e, indubitavelmente, a representação literária do humano e do sertão, universalizando-os. Nos idos de 1956, surge o Grande Sertão: Veredas, numa tessitura ficcional que evidenciou, em suas estórias e causos pitorescos, a diferença em relação à literatura produzida até ali. Nesse sertão roseano, Diadorim e Riobaldo encerram o mundo, em experiências metafísicas da presença na ausência. A abordagem metodológica desse trabalho utiliza-se da representação social, fictícia e literária e se constatou, nesta investigação, que o sertão roseano, com a caracterização da personagem Diadorim, em representação fluida, acorre e concorre para a possibilidade do empoderamento feminino. Nesse espaço ficcional, a literatura enquanto representação delineia o fluxo contínuo do artístico e cultural, no longo dito e não dito do Grande Sertão: Veredas. Para essa discussão, problematiza-se o sertão roseano e suas imbricações com as relações de gênero, a partir do escopo teórico dos seguintes autores: Antonio Candido (2014), Beth Brait (1985), Erich Auerbach (2013), Terry Eagleton (2006), Walter Benjamim (1994); Jacques Derrida (2004), Michelle Perrot (1995), entre outros.
O presente artigo tem como objetivo analisar a construção discursiva do corpo feminino na representação literária de donzela-guerreira, e como esse corrobora para a desnaturalização do sexo e para a ruptura dos padrões de gênero. Dessa maneira, observamos a presença da donzela na tradição ocidental, passando pela literatura brasileira até sua aparição nos romances Luzia-Homem (1903), de Domingos Olímpio; Dona Guidinha do Poço (1965), de Manuel Paiva, Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa e Memorial de Maria Moura, de 1992, de Raquel de Queiroz. A donzela-guerreira integra a literatura, as civilizações, as culturas, a história e a mitologia. Desse modo, a representação dessa mulher marca o imaginário de diversificadas culturas e possibilita repensamos os papéis da mulher em distintos momentos históricos. Buscamos compreender o corpo da donzela como elemento performativo para a construção de uma identidade feminina que dialoga com o masculino, assimilando seu discurso hegemônico para burlá-lo. A compreensão de performatividade aqui adotada é trazida por Butler (2008). Assim, as contribuições da autora são pertinentes, já que considera que o masculino e feminino não são categorias possuídas de antemão, mas efeitos que produzimos por meio da realização de ações específicas.