Este trabalho centra-se no estudo das narrativas “Campo geral”, de Corpo de baile (1956), “As margens da alegria”, “Os cimos” e “Darandina”, de Primeiras estórias (1962), do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). Será discutido a perspectiva da criança e do louco a respeito do modo de apreensão do mundo e da vida, seja pela beleza, seja pela loucura, visando também a uma leitura comparativa relacionada à temporalidade em “As margens da alegria” e em “Os cimos”, cuja semelhança está presente tanto na temática quanto na estrutura das narrativas. Com o intuito de interpretar os contos selecionados, em que são abordados temas diversificados como: a infância, a alegria, a perda, a morte, a loucura e o sofrimento foram escolhidos estudiosos das obras de Guimarães Rosa como: Paulo Rónai, Claudia Soares, Sílvio Holanda, Luiz Tatit. Tendo em vista que este exame se fundamenta na Estética da Recepção, formulada por Hans Robert Jauss, o qual, sob a ótica de uma hermenêutica literária, defende que o leitor é o principal colaborador na constituição de sentido de uma dada produção literária, em que a experiência estética é conduzida por uma integração entre a herança da tradição histórico-literária e os horizontes interpretativos de quem lê a obra. Dessa forma, no primeiro capítulo, discutiremos acerca do método estético-recepcional e da hermenêutica literária, balizados por textos de Jauss, Gadamer, Ricoeur e Palmer, traçando as orientações teóricas para a construção dos próximos capítulos. No segundo capítulo, proporemos o estudo da interpretação de “As margens da alegria”, “Os cimos” e “Darandina” (Primeiras estórias) e de “Campo geral” (Corpo de baile). Por último, no terceiro capítulo, faremos a análise da recepção crítica das narrativas supracitadas.
Esta comunicação possui como objeto de análise a narrativa “Darandina”, do livro Primeiro Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, levando-se em conta aspectos temático-estruturais e o modo de apreensão do mundo e da vida, por meio da loucura. “Darandina” é uma narrativa que relata a história de um sujeito que rouba uma caneta e é surpreendido quando escala uma palmeira, resistindo a qualquer tentativa de ser retirado de lá, há uma irrupção de loucura por parte do sujeito que, no topo da palmeira, inicia um discurso filosófico. Portanto, o discurso do personagem principal revela-nos uma expressiva desconstrução da razão por meio da desconstrução da linguagem. Tendo em vista que os recursos literários metafóricos são evidências fortes, que estudadas pela ótica da psicanálise estimula à reflexão sobre a verdade evidente versus verdade representada. Ao que parece, segundo Eduardo Coutinho (1994), Guimarães Rosa executa verdadeira desconstrução do discurso hegemônico da lógica ocidental, lançando-se na busca de terceiras possibilidades.
A novela “Campo geral”, publicada originalmente em Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, narra a estória de um menino míope e absorto em seu mundo de pequenos animais, formigas, besouros e aves, companheiros de sua infância, tendo como cenário o sertão dos “Gerais”. Os dramas familiares conduzem a vida e o crescimento do personagem principal Miguilim que encontra na contação de estórias um meio que lhe será muito útil para lidar com a sua realidade; assim, a narrativa “Campo geral” é entremeada pelas descrições, memória, percepção, imaginação e pelo vivido do homem sertanejo. É nesse bioma do cerrado que se concentra o “sertão dos Gerais” ou os “Gerais” ou “Campos gerais”, com os chapadões, de grandes extensões de terra cercados por veredas. Território de paisagens naturais e culturais, povoado por pessoas simples que habitam esse lugar rústico tomado pela força da ação, da relação homem e natureza. Para tanto, escolhemos como marco teórico a Estética da Recepção que nos mostra ser imprescindível a participação do leitor em qualquer texto, porque, desde o momento que lança seu olhar sobre a obra, invoca uma consciência crítica. O sujeito receptor e o objeto estético exercem papéis específicos para o sentido da obra, não ligado apenas à significação nomeada ou mesmo sugerida pelo autor, nem exclusivamente à atribuição de sentido por parte do leitor no ato de leitura. Dessa forma, destacamos o trabalho de Claudia Campos Soares (2002) sob uma perspectiva sociológica da novela “Campo geral”, pelo ponto de vista de um menino, que projeta no leitor uma visão cartográfica simbólica de um espaço, com traços de cultura, de história e de valores do cotidiano vivenciados pelo homem sertanejo.