Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
O objetivo principal deste trabalho de pesquisa é o estudo comparativo entre a obra de João Guimarães Rosa, focalizando Sagarana (1946), na qual está contida a narrativa ―Duelo‖, e a produção fílmica de Paulo Thiago, Sagarana, o duelo (1974), com o intuito de mostrar as ―transposições‖, no sentido usado por STAM (2008), que o cineasta realiza em seu filme, de elementos ficcionais e compositivos constantes nas obras rosianas. Efetuamos a análise da estruturação de tais textos em seus diferentes aspectos; o estudo das relações que podem ser estabelecidas entre a obra e o filme; a caracterização dos personagens no filme em relação à obra da qual foram retirados, conforme as múltiplas relações que se estabelecem nas narrativas. Buscamos mostrar que há elementos comuns e diferenciados entre o conto e o filme que nele se baseou livremente. Que essas diferenças dizem respeito a todos os aspectos de ambas as obras e que a adaptação livre sugere ser um dos melhores caminhos para os cineastas fazerem de seus filmes obras com validade estética independente do texto que as motivaram. E que, no caso de Sagarana, o duelo, as diversas transposições encobrem sentidos ideológicos que também são destacados na pesquisa. Valemo-nos de teóricos da narrativa como Claude Brémond (1971; 1972) e Gerard Genette (1979), e de estudiosos do cinema como Marcel Martin (2007), Jacques Aumont (1995), Robert Stam (2008), Linda Seger (2007) e Linda Hutcheon (2011). Partimos também de alguns pressupostos: a ficcionalidade como valor estético; a consciência construtiva cultivada rigorosamente por Guimarães Rosa e perceptível nas opções feitas por Paulo Thiago; a ficção como mediadora de verdades ou realidades mentais e sociais construídas historicamente. Apoiamo-nos também em algumas suposições sugeridas pela crítica, dentre as quais as elaboradas por Antonio Candido (1964).
Com o presente artigo buscamos mostrar como se dá a construção da cena do funeral do personagem Cara-de-Bronze no filme Sagarana: o duelo (1973), de Paulo Thiago, inspirado no conto Duelo que integra a obra Sagarana (1946) de Guimarães Rosa. A adaptação livre do cineasta dialoga com outros textos do escritor. Nosso intuito é mostrar de que maneira o cineasta transcende o documental, conferindo poeticidade à representação da travessia na cena destacada. Para a análise da mesma, focalizamos dois vocábulos-chave que aparecem em ambas as produções, viagem e travessia, explicando-os a partir dos elementos disseminados pela obra do próprio Guimarães Rosa e de estudiosos de sua literatura como Manuel Cavalcanti Proença, Benedito Nunes, Dante Moreira Leite e Antonio Candido.
A extensão do romance Grande sertão: veredas, a não-linearidade, fundamentalmente na parte inicial, as inserções das narrativas de enclave, a voz de um narrador que fala de si próprio e que, na tentativa de refletir sobre a existência, profere um discurso cheio de incursões ao passado são fatores atrelados ao desafio do processo de adaptação. Nos direcionamos para o movimento em direção ao passado e em direção ao futuro, sobre o qual está alicerçado o romance, apontando a existência de diferentes “graus” de passado e da inserção de tempos independentes através das narrativas de “enclave”. Romance, minissérie e roteiro são nossos objetos de pesquisa centrais durante o desvelamento das técnicas empregadas na combinação dos diferentes tempos das narrativas literária e televisual. Muitas outras linguagens entram em consonância no processo de adaptação: a linguagem da câmera com suas angulações e movimentos, a linguagem falada, a linguagem corporal, a linguagem musical, a linguagem icônica, os ruídos e os efeitos sonoros. Para a análise das sequências da minissérie, selecionadas e analisadas comparativamente às sequências literárias, também levaremos em consideração os estudos de Linda Cahir (2006), Julie Sanders (2006), Mireia Aragay (2005) e Sarah Cardwell (2002).
Por meio da presente comunicação compartilhamos reflexões concernentes à investigação, de caráter comparatista, entre o romance Grande sertão: veredas (1956) de João Guimarães Rosa e a minissérie homônima do ano de 1985, roteirizada por Walter George Durst em parceria com o diretor Walter Avancini. O romance é formado pelas diversas camadas temporais que constituem as experiências a partir das quais o protagonista e narrador compõe sua narração. No projeto de adaptação da minissérie, desde seu início, optou-se pela linearidade da trama. Entretanto, ela é interrompida pela interpolação de eventos anteriores e posteriores ao curso da ação principal. Direcionando nosso olhar para o modo como as sequências televisuais são organizadas, destacaremos as técnicas por meio das quais foram criadas a passagem do tempo mais rápida ou mais lenta, a continuidade e as sequências retrospectivas e prospectivas. Pautamo-nos no estudo de Julie Sanders, desenvolvido a partir da diferenciação entre “adapta