O cenário preferencial do moçambicano Mia Couto, uma das mais
relevantes vozes da literatura africana de Língua Portuguesa, são as guerras coloniais e
seus traumáticos desdobramentos. Ao mesclar ficção e documentário, as narrativas de
Couto traçam um retrato poético, político e alegórico da Moçambique contemporânea, de
cujo contexto despontam inventários de ruínas, fragmentos, modulações melancólicas de
vozes a reverberar rastros de tradições, ritos e mitos de seu país.
A crescente recepção à obra de Mia Couto, no amplo universo da lusofonia, bem
como no dos Estudos Pós-coloniais, vê-se às voltas com indagações cabais sobre o
trauma da guerra, suas vítimas e a perda de tradições, sob o impacto da globalização: O
que resta atualmente de cultura e tradições orais dilaceradas por guerras e genocídios?
Como elas interagem com a globalização cultural e econômica em rápida circulação em
Moçambique? E o saldo de mortos na guerra de libertação de Moçambique e um outro
tanto durante