Parte fundamental da poética de Guimarães Rosa foi percebida por importantes críticos literários após o lançamento de suas obras. Antonio Candido, Pedro Xisto, Augusto de Campos, Cavalcanti Proença são alguns nomes lembrados pelo próprio escritor na correspondência trocada com seus tradutores. Nessas cartas, ele avaliza as percepções desses estudiosos e fornece, a partir das dúvidas de seus correspondentes, inúmeras amostras do que seria a “metafísica da língua” que constitui seus textos. Este artigo tenta trazer à baila alguns desses exemplos e, com eles, um pouco da poética do autor explicitada por ele mesmo.
Questionar as categorias da História estava entre os objetivos assumidos pelo projeto literário de Guimarães Rosa e foi o próprio escritor quem, em 1967, levou tal debate para a ambiência libertadora da poesia. Para refletir como isso teria se operado naquela escritura, foram consultados alguns materiais que o autor utilizou no processo de literatura: Cadernos e Cadernetas. Em que pese à importância das já bastante difundidas cadernetas, também a leitura dos cadernos rosianos é bastante rica, ainda que, curiosamente, estes ainda não tenham sido tema de nenhum trabalho de referência que os tomasse como documentos autônomos, capazes de expressar algo sobre si mesmo e sobre aquela escrita literária. Neste artigo, propomos apresentar uma leitura detalhada daquele conteúdo, pois é possível perceber ali que, embora aqueles sejam documentos privados, eles são como poemas, pois seu conteúdo é capaz de induzir a um estado poético e revelar novos vislumbres daquela escritura, a saber: alguns questionamentos, objetivos e também de que maneira foram estabelecidas relações com a cultura popular, e a perspectiva infantil.