O discurso das poesias de Manoel de Barros e o das narrativas de Guimarães Rosa constroem estilos poéticos erigidos, em muito, a partir do tropos imagético. Em Barros, a metáfora instaura – valendo-se de rupturas semânticas, fragmentação de frases, montagem caótica de versos, ausência de semelhança causal entre as coisas – significação que subverte o real como denúncia da coisificação do homem por sociedade desumanizadora
que precisa, urgentemente, ser modificada, subvertida, revolucionada. Em Rosa, a metáfora surge, quase sempre, na reiteração de imagens, embalada por onomatopeias, crispada por neologismos, amplificada por subversiva sintaxe, em jogo lúdico que exprime o ethos poético e a ética do autor. Este artigo analisa em paralelo o estilo dos dois autores, examinando – em suas obras – a elaboração do jogo metafórico e respectivos efeitos de sentido.
Esse texto propõe uma leitura de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, como aventura de travessia da língua portuguesa. Nesse sentido, uma travessia na história da língua é aqui pensada como condição humana que retroage à ideia de que a língua das histórias, de Riobaldo, por
exemplo, existe como um balanço de sua espécie linguística; isso que tem a ver com um saber cúmplice à arte de contar; pois quem se destina a contar atravessa, corta, fura espaços e tempos, a partir da conspiração do destino do ato de contar. Nesse sentido, o texto reconhece um modo de ser independente como apresentação da vida como um parir mundo, mais ou menos lutuoso – como se houvera maneira de tomá-lo, o que humanamente equivaleria desejá-lo. Quer dizer, contá-lo na boca, dar início, começo, à voz que a língua é.