Partindo da hipótese de que, nos contos semi-acabados desse livro de Guimarães, revelam-se mais explicitamente certos mecanismos da narração, através dos quais se evidencia o confronto entre as chamadas culturas erudita e popular, o texto se propõe a investigar os modos de narrar empregados para identificar as ambigüidades do confronto cultural aí dramatizado, o que nos permitirá problematizar a proverbial adesão do autor (real e implícito) aos valores da cultura sertaneja.
Neste texto empreendemos uma interpretação do conto “Retábulo de São Nunca” inserido
no livro póstumo Estas Estórias (1969 [1985]) de João Guimarães Rosa. Pretendemos discutir nesta
leitura crítica a experimentação com a escrita, pois neste conto há traços característicos do gênero
trágico, presença de elementos culto e popular e o diálogo com as narrativas primevas. Para isso, lanço
mão dos estudos de Sergio Vicente Motta, no livro, O engenho da narrativa e sua árvore
genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa (2006), afiançado nos estudos de
Scholes e Kellogg, afirma que há na nossa literatura sombra da tradição. Para ele, houve
desdobramentos a partir da narrativa matricial designada como ramos e galhos. Neste conto Rosa
discute sobre o casamento, tema comum na literatura desde a antiguidade, mas o autor subverte a
tríade encontro, desencontro e reencontro das narrativas primevas e narra o desencontro amoroso de
um jovem casal que mesmo sentindo forte apelo emocional optam por não se casar depois de terem
visitado uma capela antiga onde fora encontrado um painel de um santo misterioso.
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