Em Meu tio o Iauaretê, technê, poiesis e mimesis simetrizam o agon-luta da narrativa em agon-jogo da narração. A technê de Tonho Tigreiro, narrador que enleia, intriga, ludibria e embosca narratário e leitor, reencena a technê caçadora, predadora, do onceiro tornado onça. Na obra acabada, seus feitos como personagem transmutam-se em poiesis – suas proezas de bravo caçador têm ares de boasting poems, seus massacres de predador operam a damnatio ad bestias dos vícios humanos estetizados em tableaux vivants. A onça que ele mimetiza se faz ver e ouvir no tecido mesmo da palavra - nas armadilhas da narração, no cratilismo da linguagem - operando uma mimesis em mise en abyme que, denunciando as astúcias da feitura, exime-se da aspiração a cópia da realidade.
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