O episódio do Grande Sertão: Veredas que se passa na chamada “Fazenda dos Tucanos”, do meu ponto de vista, inicia de fato a segunda parte do romance, a épica. É quando se torna mais intenso o seu tempo de guerras e põe em cheque a formação do herói. Ele toma consciência de que precisa se superar, o que o acabará levando para a tentativa do Pacto. Isto acontece depois da morte de Joca Ramiro. O grupo de jagunços ao qual pertenciam Riobaldo e Diadorim, depois de passarem a ser comandados por Zé Bebelo, se estabelece numa Casa-Grande recém-abandonada, onde são encurralados pelo bando do Hermógenes e Ricardão. De perseguidores em busca da vingança da morte do antigo chefe, Joca Ramiro, eles são sitiados pelos seus executores. É um dos momentos mais agudos do livro, que culmina com a matança dos cavalos - ato aparentemente gratuito, mas de extrema crueldade, que talvez só sirva para revelar o grau de ferocidade dos opositores. Os embates entre os bandos mostram como será renhida a luta entre eles e a quantas o de Riobaldo e Diadorim terá que passar para realizar o seu intento de vingança. Isto compõe a camada épica da narrativa, a mais visível. No entanto, subterraneamente, desenvolve-se uma outra trama, agora dramática, como uma sub-história, porém como o seu núcleo mais efetivo: o embate entre Riobaldo e Zé Bebelo. É nesse embate que se coloca para o herói a questão incontornável do Poder e da Chefia, quando o herói toma consciência de que não poderá mais ficar alheio a eles.
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