O duplo enquanto representação da dualidade humana participa do imaginário popular desde épocas remotas. Esse conceito relacionado à fragmentação da identidade humana tem chamado cada vez mais a atenção da crítica literária, tema que se relaciona diretamente com as discussões cada vez mais atuais sobre o estudo de gêneros, com destaque para o Feminismo, já que as mulheres por muito
tempo foram vistas como sexo inferior, ficando à mercê de um tratamento diferenciado e relegadas a uma posição social de serventia e obediência aos homens. Nesse contexto, é comum a criação de uma dualidade no sujeito subtraído, gerando uma desordem íntima formada pelo conflito entre a posição que lhe era conferida historicamente e socialmente contra sua própria personalidade e
individualidade. Neste trabalho, buscamos analisar o duplo nas protagonistas femininas de contos brasileiros e estadunidenses tendo a morte como elemento de transformação. Como suporte teórico, nos embasamos nos trabalhos de Brandão (2006), Bravo (1997), Foucault (1995, 2004a, 2004b), Mello (2000), Zolin (2009), dentre outros. Para o tratamento analítico dos contos, utilizamos o método de estudo descritivo e o comparativo, isso porque, após a exposição dos contos, realizamos um cotejo entre os contos a serem estudados no sentido de encontrar afinidades e divergências entre eles com o intuito de verificarmos a forma como essas narrativas dialogam, especialmente no que se refere ao tratamento dos temas duplo, identidade, feminismo e morte. Os resultados mostram que todas as protagonistas analisadas fazem uso de uma máscara metafórica que é assumida perante a sociedade patriarcal na qual estão inseridas. A criação e o uso dessas máscaras, porém, divergem de acordo com a narrativa, pois, algumas das personagens femininas apresentam atitude ativa em relação ao masculino, agindo contra ele de modo a alcançarem o empoderamento, enquanto outras, devido à postura passiva que adotam, não alcançam o empoderamento e acabam por ser vítimas dessa inatividade.
A narrativa curta, também denominada conto, no contexto do modernismo tardio brasileiro, é o objeto de estudo deste trabalho. O conto possui uma caracterização própria, diferenciando-se de outras narrativas literárias naquilo que a teoria comumente denomina "extensão" ou, segundo Carlos Reis e Ana C. Lopes, uma "modalidade de variação temporal da narrativa". Todos os elementos que marcam a diversidade deste tipo textual em relação às demais formas narrativas, tais como: brevidade, simplicidade constitutiva, linearidade, concentração de enredo, concentração cronotópica, densidade dramática, singularidade temática, intensidade, univocidade e univalência, estão, de certa maneira, ligados à extensão. A análise e a interpretação dos componentes tempo e espaço na formação do cronótopo são realizadas, nesta pesquisa, com vistas ao reconhecimento de um pathos que, acredita-se, fornece densidade à brevidade do conto moderno. As fontes de pesquisa para análise e interpretação dos contos centraram-se em estudiosos especializados em teoria e crítica literárias que examinaram as categorias temporais e espaciais e aqueles que consideraram o cronótopo no contexto da modernidade, no século XX. Além destes, filósofos e pensadores voltados para o estudo do tempo e do espaço, considerando as narrativas como foco.
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