Neste artigo, abordamos sobre a linguagem de Clarice Lispector e a de Guimarães Rosa. Valendo-nos de duas obras de cada um desses autores: A paixão segundo G. H. e Laços de família, e Noites do sertão e Primeiras estórias, do segundo, procuramos mostrar que elas são interessantes não somente pelo tipo de linguagem, mas também pelos assuntos abordados.
Versão editada da conferência “A força de um inferno: Rosa e Clarice nas paragens da diferOnça”, ministrada no IEL-UNICAMP, 2013. Partimos da transcrição realizada pelo Laboratório de sensibilidades (https://laboratoriodesensibilidades.wordpress.com/2018/04/23/a-forca-de-um-inferno-rosa-e-clarice-nas-paragens-da-diferonca-transcricao-da-palestra-de-eduardo-viveiros-de-castro-no-ifch-unicamp/), que foi conferida e revisada por Ingrid Vieira, e alterada e corrigida visando a publicação escrita por Alexandre Nodari. Posteriormente, o autor acrescentou passagens e modificou o texto com vistas à desoralização estilística, sem no entanto apagar o caráter de palestra falada.
Pautado pelo que propõe a teoria da crítica cultural, mais especificamente no tocante às políticas da amizade, o ensaio discutirá a relação entre três grandes intelectuais: Machado de Assis, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. No ensaio, dar-se-á atenção especial para o lugar e papel que Machado de Assis e Guimarães Rosa ocupam enquanto amigos intelectuais na produção cultural de Clarice Lispector. No tocante a Machado, discutir-se-á a presença da literatura do mesmo dentro da obra clariciana, posto que a escritora meio que zomba da tradição literária brasileira ao dizer que não se lembra se tinha algum livro do bruxo do Cosme Velho em sua estante. Por este viés crítico, pode-se argumentar até que ponto a literatura da escritora nasce dialogando diretamente com a referida tradição. Já com relação a Guimarães Rosa, é publico o fato de que ele nutria pela literatura da escritora uma verdadeira eleição de leitor, como atesta seu próprio comentário à amiga de que a lia não para a literatura mas para a vida. Clarice, por sua vez, era uma leitora contumaz de Rosa, além de admiradora de sua literatura, como fez questão de dizer por várias vezes, mesmo quando se encontrava fora do Brasil.Por fim, mostraremos como a literatura da escritora conseguiu se inscrever e sobressair na tradição literária brasileira, tendo numa ponta o escritor machado de Assis e, na outra, ninguém menos do que Guimarães Rosa.
Em termos mais gerais, o presente artigo trata de como questões de ordem ontológica determinam a especificidade e excelência da literatura em relação a outras áreas da cultura. Esse ponto é particularmente evidente nas teorias de crítica literária típicas do Renascimento, que herdam muitas das concepções clássicas sobre a atividade poética, a partir de tradições neopla-tônicas. Mais especificamente, defende-se neste artigo a tese de que questões de ordem ontológica permanecem determinantes para a literatura moderna. No final do artigo, tal tese é ilustrada com referência a obras de dois autores-chave da literatura mo-derna brasileira, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa.
Guimarães Rosa e Clarice Lispector têm sido vistos como fenômenos isolados em nossa história literária, como se eles inaugurassem caminhos de todo inéditos em nossa literatura. Este trabalho procura mostrar que essa sensação se deve menos à obra desses dois autores do que à visão pouco abrangente que se cristalizou acerca da geração que os antecedeu. De fato, um olhar cuidadoso sobre o romance de 30 demonstra que o sistema literário brasileiro estava pronto para o surgimento de Guimarães e Clarice nos anos 40.
A narrativa curta, também denominada conto, no contexto do modernismo tardio brasileiro, é o objeto de estudo deste trabalho. O conto possui uma caracterização própria, diferenciando-se de outras narrativas literárias naquilo que a teoria comumente denomina "extensão" ou, segundo Carlos Reis e Ana C. Lopes, uma "modalidade de variação temporal da narrativa". Todos os elementos que marcam a diversidade deste tipo textual em relação às demais formas narrativas, tais como: brevidade, simplicidade constitutiva, linearidade, concentração de enredo, concentração cronotópica, densidade dramática, singularidade temática, intensidade, univocidade e univalência, estão, de certa maneira, ligados à extensão. A análise e a interpretação dos componentes tempo e espaço na formação do cronótopo são realizadas, nesta pesquisa, com vistas ao reconhecimento de um pathos que, acredita-se, fornece densidade à brevidade do conto moderno. As fontes de pesquisa para análise e interpretação dos contos centraram-se em estudiosos especializados em teoria e crítica literárias que examinaram as categorias temporais e espaciais e aqueles que consideraram o cronótopo no contexto da modernidade, no século XX. Além destes, filósofos e pensadores voltados para o estudo do tempo e do espaço, considerando as narrativas como foco.
In this dissertation, I describe how popular culture was represented in the experimental narratives of 20th Century Brazilian Literature. Taking advantage of their dialogic properties, I study how three experimental novels (Macunaima, Grande Sertao: Veredas and A hora da estrela) incorporate, reproduce, and undermine other discourses referring to the people. In a culture in which literature is commonly read as a resonance box of other kinds of discourses, I foreground how the representations created by these novels differ from other discourses---especially the essay---and cast new light to the notion Brazilian culture.
A proposta principal deste trabalho é analisar a representação de animais e animalidade na literatura da brasileira sob a perspectiva dos Estudos Animais - área de pesquisa voltada para a compreensão de animalidade e animais enquanto seres vivos e imaginados. A análise se apresenta como um estudo temático e é organizada a partir da subdivisão do grande tema dos animais em oito ramificações temáticas: animais colonizados, animais idealizados, animais nacionais, animais domésticos, animais metafísicos, humanos animalizados, animais sujeitos e animais agentes. Estes subtemas exemplificam padrões culturais percebidos em obras literárias que datam desde o período colonial até a década de 1980, aproximadamente. O corpus selecionado para a presente análise se constitui de autores como Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, João Alphonsus, Lúcio Cardoso, Rachel de Queiroz, José de Alencar, entre outros, totalizando cerca de cinquenta e cinco textos literários e documentais. Neste trabalho, utiliza-se uma metodologia histórico-comparativa que visa, também, propor uma reorganização da história da literatura brasileira sob um viés temático. Não existe aqui a ambição de realizar um trabalho de historiografia extensiva, mas sim aquela voltada para a organização de um corpus que apresenta assuntos afins. Os textos literários em questão são arranjados e analisados de acordo com o tema no qual estão inseridos, não seguindo, portanto, uma ordenação cronológica. Em cada uma das ramificações temáticas estabelece-se relações interpretativas que colocam textos pertencentes a diferentes movimentos literários e períodos históricos lado a lado, a fim de demonstrar o diálogo existente entre o conteúdo de textos literários e documentais diversos.
Este estudo apresenta um diálogo entre obras de escritores brasileiros atuantes na década de setenta, durante a ditadura militar brasileira pós-64, e livros de escritores anteriores cujas obras estão situadas no âmbito do século XX. Procura-se expor a relação produtiva, intrínseca à sua realização estética, formal e temática, que esses romances estabelecem entre si, e seu significado amplo em termos de crítica e historiografia literária. Os escritores abordados são: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Antonio Callado, Osman Lins e João Ubaldo Ribeiro. A base teórica fundamental para o estudo dessas relações está baseada na obra de Erich Auerbach e de estudiosos brasileiros, como Antonio Candido.
Este trabalho propõe uma abordagem teórica da evolução do conto como gênero nos séculos XIX e XX, analisando momentos representativos de seu desenvolvimento formal em literaturas de expressão linguística inglesa e portuguesa. Para tanto, foram selecionadas obras de escritores que sintetizam e articulam certas tendências comuns ao gênero. Destacam-se, ao longo do trabalho, os contos escritos por Edgar Allan Poe, João Guimarães Rosa, James Joyce, Jorge de Sena, Virginia Woolf e Clarice Lispector, aos quais também se adiciona a produção dos irmãos Grimm, de Alexsandr Afanas’ev (advindos de outras expressões linguísticas) e de Câmara Cascudo. Os contos são discutidos a partir do tratamento enunciativo das formas de tempo e espaço e das relações dialógicas entre as diversas consciências que constituem as narrativas (autor, narrador e personagens), além da particular tensão, percebida na evolução do gênero, entre as tentativas de aproximar formalmente o conto de, por um lado, uma expressão de caráter comunitário, e, por outro, uma expressão de caráter individual.
Quando um escritor se expressa, deve se decidir entre uma série de escolhas, tais como quais palavras/expressões usar ou como deve ser a pontuação da leitura. Essas escolhas definem as características individuais do escritor e a estilometria é o estudo quantitativo desse estilo de escrita. A proposta deste trabalho é conseguir identificar os livros de dois escritores com estilos bem definidos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector, por meio dos atributos léxicos de seus textos: frequência de letras, frequência de palavras e TF-IDF. A comparação dos atributos é feita pela distância euclidiana, similaridade cosseno e similaridade de Jaccard. Os resultados mostram que o uso do conjunto de palavras com similaridade de Jaccard foi possível separar os livros por sua autoria.