Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
O objetivo desta pesquisa é oferecer uma perspectiva crítica do romance Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa, à luz da concepção de epifania do escritor irlandês James Joyce, isto é, desvinculando-se de seu lugar de origem a religião e deslocando-se para o âmbito da Literatura, como um de seus procedimentos estéticos. A partir do levantamento bibliográfico da fortuna crítica, centrado em títulos que evidenciam alguma aproximação da temática como, por exemplo, a construção da linguagem rosiana, no que diz respeito à inovação do léxico e ao árduo trabalho com a língua, e seus vínculos com a metafísica e a alquimia, a problemática de pesquisa concentra-se em torno da especulação sobre a presença de procedimentos epifânicos na escritura do romance, sua aproximação e distanciamento do conceito joyceano, bem como os vínculos estabelecidos com o efeito estético. A hipótese que levantamos é a de que a singularidade do processo epifânico da escritura de GSV está no atrito que a escrita rosiana cria entre a escrita e a fala, o texto e a obra, na concepção de Paul Zumthor, enfim, entre o que a escrita sugere e o leitor lê-ouve-vê-corporifica-interpreta. Além disso, é no ato narrativo de Riobaldo que se dá a nova visão sobre a matéria vivida, que reverbera para o plano escritural na relação entre o processo criativo autoral e o efeito sobre a recepção. A metodologia de análise privilegia a seleção de cenas enunciativas geradoras de grandes transformações na trajetória do narrador Diadorim, a canção de Siruiz e o pacto com o Diabo tendo por diretriz a hipótese de que o procedimento epifânico de GSV está no entrecruzamento entre duas cenas enunciativas: a que se constrói no nível da oralidade (do narrador Riobaldo para o interlocutor) e aquela que se constrói entre o sujeito da escrita - o autor criador João Guimarães Rosa - parceiro de Riobaldo com o qual divide a autoria entre voz, fala e escrita -, o romance em si e o outro a quem se destina, que é, agora, o leitor. Os resultados demonstram que a epifania, além do caráter de aparição, revelação e manifestação, atua como procedimento estético e composicional de GSV, manifestando-se na microfísica da sua linguagem poética seja na narração oral de Riobaldo, seja na escritura autoral.
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