O presente estudo discute Primeiras estórias, livro de contos de João Guimarães Rosa, publicado em 1962, a partir de uma perspectiva mítico-trágica, compreendendo os contos, que ali se encontram, como uma recriação de alguns elementos do universo mítico e trágico dos gregos. Tal perspectiva se efetiva nos vários planos da obra e se presta a vários propósitos, sobretudo, àquele de libertar o homem do peso da temporalidade, conforme o autor revela ao crítico alemão Günter Lorenz. Para se alcançar esse objetivo, o autor vale-se de várias estratégias como o estranhamento gerado pelas imagens que se erigem na narrativa e que leva o leitor a quebrar a habitualidade da leitura, alargando, assim, as possibilidades de representação banidas, geralmente, pelo pensamento lógico-dedutivo. As fortes sugestões de um arcabouço mítico-trágico sobre o qual repousam as primeiras estórias se dão a ver, desde o título do livro, bem como as várias gravuras que se encontram na capa, além do índice ilustrado, feito a pedido do autor. A questão da origem, a busca do esclarecimento, o retorno a uma realidade primeva ganham dimensão notável ao se materializarem, através de desvios na narrativa, como a loucura, a linguagem infantil ou a solidão experimentada por algumas personagens.
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