As adaptações de nove contos de Primeiras estórias, publicadas pela primeira vez em 1962, para os filmes A terceira margem do rio (Nelson P. Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999) constituem o tema deste estudo. Comentam-se as opções narrativas assumidas pelos cineastas para vencer o desafio imposto pela intensa elaboração textual presente na escrita de Guimarães Rosa. Considerando, por princípio, que cada obra literária ou fílmica deve ser apreciada em sua condição de produção artístico-cultural, o exame das relações entre o livro e os filmes privilegia
algumas das implicações temáticas e estéticas resultantes dessa passagem.
O objetivo deste trabalho é verificar o processo de renovação da literatura por meio do trabalho de Italo Calvino em I nostri antenati e João Guimarães Rosa em Primeiras estórias. A base da comparação será estruturada através de um diálogo intertextual entre as obras. O projeto de ressignificação das obras enquanto conjunto somado à visitação ao passado da tradição literária norteia a análise das narrativas, configurando as consonâncias poéticas investigadas nessa pesquisa. A aparente ruptura com a estética da década de 50 promove o movimento convergente das duas obras e instiga a inovação dos valores atribuídos à estética dita pós-moderna.
Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras
Amparado em Antonio Candido e Eduardo Coutinho, a presente pesquisa tem por objetivo investigar o estatuto do pensamento lógico e do pensamento mítico na obra de 1962, Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Com efeito, em uma abordagem imanente das narrativas rosianas, e a partir do diálogo mais detido com estes dois comentadores e com outros pesquisadores mais recentes da fortuna crítica, construímos o que denominamos sistema composicional dos princípios antitéticos da obra. Esse sistema consiste em uma representação do que entendemos como o processo criativo do volume. Em verdade, esta matriz formal que articula dialeticamente os dois princípios do nosso sistema pode ser reconhecida em todas as narrativas do volume e em todos os níveis de análise. Deste modo, por meio do tensionamento entre o Mýthos e o Lógos, Primeiras estórias pode ser erigida a condição de poesia narrativa, ou prosoema, pois embaralha os gêneros da poesia e da prosa em estórias que atualizam o mítico e arcaízam o lógico, em um processo químico de criação. Assim, oralidade, primitivismo, coletividade e o pensamento metafísico-sobrenatural, próprios do princípio mítico, estão dialeticamente articulados com o individualismo, com o modernismo, o escrito e o pensamento físico-natural, pressupostos do princípio lógico. E a partir dessa dupla raiz composicional é possível reconhecer a unidade do volume, em seu barroquismo linguístico e na sua estrutura especular. Pois a narrativa medial de Primeiras estórias, O espelho, reflete esse sistema composicional dos princípios antitéticos linguisticamente e articula toda a obra simetricamente, à medida que sua unidade implica a duplicidade do Mýthos e Lógos enquanto palavra.
Esta tese analisa a tradução de Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, para a língua inglesa e tem como foco principal o efeito estético de seu projeto literário. Após breve panorama sobre a obra do autor, bem como acerca dos Estudos da Tradução, a base teórica do trabalho é construída a partir de CAMPOS (1963), que explica sobre a transformação de informação estética em semântica, sobre o conceito de máquina da tradução, de transcriação e das consequências das escolhas dos tradutores e em LLOYD (2014) e o conceito de multidimensionalidade, que ratifica a importância da análise de elementos culturais na tradução. A análise da obra será feita a partir da comparação de trechos do livro em língua portuguesa e de traduções de três autores em língua inglesa: The Third Bank of the River and Other Stories, produzida em 1968 por Barbara Shelby, a única que traduz toda a coletânea; The Jaguar, feita por David Treece em 2001, que contém seis narrativas de Primeiras Estórias e ainda outras três do livro Estas Estórias, também de Guimarães Rosa, lançado postumamente; e ainda a primeira tradução produzida a partir de Primeiras Estórias pelas mãos de William Grossman em 1967 para uma coletânea de autores brasileiros intitulada Modern Brazilian Short Stories. A análise é feita considerando a postura dos tradutores quando expostos aos fenômenos textuais mais representativos do projeto estético rosiano, tais como o uso de neologismos, dinamizações, oralidade e outros experimentalismos linguísticos.
O objetivo principal do presente trabalho é analisar a relação entre Primeiras estórias, de Guimarães Rosa e sua tradução para o inglês intitulada The third bank of the river and other stories, de Barbara Shelby. Para tanto, realizamos as análises de quatro narrativas dessa obra - A terceira margem do rio, A menina de lá, A benfazeja e Partida do audaz navegante - e de suas respectivas traduções para o inglês, partindo do levantamento e estudo de três tipos de frases que, a nosso ver, consistem em uma das principais características do fazer poético rosiano e foram cuidadosamente trabalhadas no intuito de revestir a temática metafísico-religiosa tão cara à obra desse autor. Além dessas nossas sugestões, buscamos, na correspondência que Guimarães Rosa trocou com seus tradutores - Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís - posições rosianas quanto ao fazer tradutório e literário que, compondo uma espécie de poética rosiana da tradução, também contribuíram para as análises efetivadas. Constatamos que esses componentes textuais - as frases - são estrategicamente inseridos em momentos-chave das narrativas e, se modificados ou omitidos na tradução, podem vir a prejudicar a construção dos sentidos mais profundos desses contos. Ademais, fizemos um estudo das relações entre autor, tradutor e editor a partir da correspondência que encontramos no Harry Ransom Center, localizado em Austin - Texas. A análise dessas cartas também permitiu que tivéssemos acesso a outros aspectos que podem ter influenciado o processo de tradução.
Guimarães Rosa privilegia, em toda sua obra, lugares de ver e dizer o mundo historicamente desvalorizados no mundo ocidental. Parece-me que este gesto está em sintonia com a crise do paradigma civilização e barbárie, crise esta que problematiza uma série de oposições, como adulto-criança, oral-escrito, civilizado-selvagem, urbano-rústico. Estas oposições negavam, ao pólo considerado negativo ou inferior da dicotomia, uma forma de pensamento, de entendimento do mundo, que tivesse interesse, desqualificando-a. Rosa, procedendo o contrário, empenhando-se em construir mundos ficionais a partir desses marginalizados modos de ver e dizer, subverte o paradigma civilização e barbárie. Apresentarei, nesta comunicação, uma reflexão sobre as implicações deste gesto, inscrevendo a obra de Rosa num contexto mais amplo de crise e revisão das bases do pensamento ocidental. Nessa direção, apresentarei alguns pontos de contato entre o gesto rosiano e o de pensadores da chamada Escola de Frankfurt, empe
O que se propõe analisar neste trabalho é a busca constante da transmutação do modo de ver o mundo, que faz da obra de Rosa uma grande paideia, que incita o jogo do devir, o jogo de atravessar, o jogo das metamorfoses contínuas e comuns de toda forma de vida. O narrador rosiano põe o leitor em constantes rupturas da lógica, dos limites, dos pragmatismos humanos, a fim de descontruir a automatização dos homens e do mundo, gestando o aprendizado de uma nova leitura do mundo, que destrói os determinismos e lógicas da subordinação, decretando o fim da lógica do senhor e do escravo. Essa nova visão mito-poética faz o homem comum religar-se ao mundo, não como superior, mas como parte integrante que deve aprender o movimento dialético da vida: o nascer e morrer constantes, o transformar-se para perpetuar-se, o ir e vir contínuos e perpétuos. Assim, neste trabalho, o que se objetiva estudar é a representação das personagens rosianas em busca de sua construção como indivíduos, especialmente no
Este ensaio visa empreender uma análise do livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa e de sua adaptação para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com roteiro de Pedro Bial e adaptação de Alcione Araújo, tomando como foco central a ideia do comum. Buscaremos verificar como esse conceito, tratado por pensadores contemporâneos, apresenta-se nos textos do corpus. Além de investigar características da própria linguagem literária e fílmica, o ensaio pretende avaliar o modo como, nos contos e em sua adaptação para o longa-metragem, ocorre a relação do homem com a vida comunitária, cotidiana. Podemos perceber, no trabalho de Rosa, retomado por Bial, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos imperativos da modernidade. Ideias de compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem na análise dos textos. Mas o trabalho tratará a noção do comum também como dificuldade de se empreender o viver junto, abrindo assim o lequ
A presente comunicação, a partir de uma leitura de estórias de João Guimarães Rosa e José
Luandino Vieira, presentes em Primeiras Estórias e No antigamente, na vida, respectivamente, visa
uma abordagem dos textos baseada na reconstrução do passado enfocada no tempo da infância.
Privilegiamos no decorrer desta leitura os processos de ressemantização tanto da palavra, como do
próprio espaço do passado, que salvas as distinções contextuais e das intenções dos projetos
estéticos dos autores, aponta para uma tensão estrutural entre o novo e o velho. Esta tensão se
evidencia nas narrativas, ademais dos aspectos já apontados, através de um constante movimento
de trazer os espaços periféricos para o centro da narrativa, tanto pela inventividade da linguagem,
tanto pela ruptura das fronteiras entre centro e periferia presente nos textos, nomeadamente, os
musseques de Luanda em Luandino Vieira, e o sertão roseano, que nos apontam para um
entrecruzamento cultural, dentro de uma escritur
As Primeiras estórias como atos genesíacos primordiais. O princípio do uno e do múltiplo regendo a proliferação das estórias. Os quatro pilares fundamentais que sustentam a estrutura arquitetônica do livro: a catábase, o personagente, o psiquiartista e a alegria. O entrelaçamento destas noções e o seu desdobramento nas estórias. A estória medial – “O espelho” – e as duas estórias extremas – “As margens da alegria” e “Os cimos” – como o princípio ativo do livro a partir do qual as outras dezoito estórias seguem-se umas às outras num percurso progressivo de desvelamento e engrandecimento do homem. A seqüência das estórias e a sua orquestração conjunta na composição de um enredo harmônico. As correlações internas entre as estórias. O destino ascensional da alma e os ecos plotinianos na obra rosiana.
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