Guimarães Rosa mostrou-se desconfiado dos mecanismos de interpretação em jogo numa entrevista. É o que concluiu em uma entrevista concedida a Pedro Bloch (1963): “Quando você me faz uma pergunta é como se estivesse alterando alguma coisa em mim, compreende?”. Neste artigo, suas entrevistas serão revisitadas, atentando para o processo de modificação do autor de acordo com a pergunta feita, ou melhor, não se trata necessariamente de uma mudança do autor, mas da imagem que tinha ou promovia de si.
Muitas vezes o leitor das narrativas de Guimarães Rosa depara-se com um narrador ou personagem que podem ser lidos como uma figuração do escritor graças à associação entre aspectos textuais (temas, personagens, narradores) e informações acerca do autor. A identificação ocorre também pelo ajuste do texto ao repertório de imagens e posturas autorais que dialogam com as escolhas da obra lida repertório também acessado pelo escritor para a construção de sua figura autoral. Esta tese discute como o escritor criou figurações autorais, procurando entender a dinâmica de vinculação entre presença autoral e campo literário, além da construção da autorrepresentação em enunciações públicas (entrevistas e depoimentos) e privadas (diários e outros manuscritos), nas quais se observa o escritor produzindo figurações de si e afirmando posturas que sugerem um modo de interpretação de seus textos. Quanto às narrativas rosianas, a análise concentra-se em textos divulgados em periódicos e posteriormente reunidos em Tutaméia Terceiras Estórias (1967), Estas Estórias (1969) e Ave, Palavra (1970).