BRAVO! publica trechos inéditos do diário que Guimarães Rosa escreveu durante a 2ª Guerra Mundial, quando era Cônsul-adjunto em Hamburgo. Nas anotações, que registram de cenas do cotidiano até bombardeios, já se vê o estilo que o transformaria num dos maiores escritores brasileiros.
Ainda inédito, o "Diário de guerra de Guimarães Rosa" se refere ao período em que o escritor viveu em Hamburgo o impacto da Segunda Guerra Mundial. Este artigo parte de uma pesquisa de pós-doutoramento realizada na UFMG e procura examinar alguns elementos do "Diário", considerando o contexto delimitado pelo nazismo.
Além de escritor, o autor brasileiro João Guimarães Rosa foi diplomata. Ele trabalhou em Hamburgo (Alemanha), entre 1938 e 1942. Ele escreveu um diário entre 1939 e 1941. O diário está na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integra a Coleção Henriqueta Lisboa. Nele, há a rotina diplomática na Segunda Guerra Mundial: viagens, reuniões, filmes, teatro, bombas, judias chorando no consulado.
A intenção em colocar os textos em confronto obedece à proposta de desdobramento dos temas aflorados pelo Diário de guerra, de Guimarães Rosa, pela coincidência verificada, no conto de Kafka e no texto de Coetzee, a respeito das experiências científicas relativas à evolução da espécie: em Kafka, essas experiências sofrem o processo de metaforização; em A vida dos animais, são documentados e discutidos de forma irônica e sob vários pontos de vista.
Muitas vezes o leitor das narrativas de Guimarães Rosa depara-se com um narrador ou personagem que podem ser lidos como uma figuração do escritor graças à associação entre aspectos textuais (temas, personagens, narradores) e informações acerca do autor. A identificação ocorre também pelo ajuste do texto ao repertório de imagens e posturas autorais que dialogam com as escolhas da obra lida repertório também acessado pelo escritor para a construção de sua figura autoral. Esta tese discute como o escritor criou figurações autorais, procurando entender a dinâmica de vinculação entre presença autoral e campo literário, além da construção da autorrepresentação em enunciações públicas (entrevistas e depoimentos) e privadas (diários e outros manuscritos), nas quais se observa o escritor produzindo figurações de si e afirmando posturas que sugerem um modo de interpretação de seus textos. Quanto às narrativas rosianas, a análise concentra-se em textos divulgados em periódicos e posteriormente reunidos em Tutaméia Terceiras Estórias (1967), Estas Estórias (1969) e Ave, Palavra (1970).