O presente estudo propõe uma reflexão filosófica ao conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, escrito por Guimarães Rosa em 1946. Tendo como objetivo chegar a uma conclusão de quem é de fato “Matraga”, através da análise de todo o processo de transformação do protagonista, o trabalho tem como base os conceitos de Corpo sem Órgãos, rostidade e devir, desenvolvidos por Deleuze e Guatarri. As contribuições dos autores ajudarão na compreensão do ser como múltiplo, que está sempre se conectando com o mundo, e assim, sempre se transformando, temática amplamente abordada na narrativa Roseana.
“A hora e a vez de Augusto Matraga”, conto que faz parte da coletânea reunida em Sagarana, de Guimarães Rosa, e O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, são textos que deixam transparecer elementos indicadores da presença de aspectos medievais em sua constituição. Assim, este trabalho tem por objetivo identificar a ocorrência e a manifestação da prática do duelo e do ideal de honra nesses dois textos, colocando-os em confronto. Observa-se em Antônio Malhadas e Augusto Matraga personagens que guardam semelhanças e diferenças em relação aos referidos aspectos. Procuramos evidenciar, no decorrer da análise, essas convergência e divergências, problematizando-as. O comportamento de ambas as personagens apontam para um resgate desses dois temas caros às narrativas medievais em que figuram o herói cavaleiresco. Nesse sentido, Malhadinhas e Matraga são aproximados e confrontados com esse tipo de herói, revelando-se como caracteres importantes para a comprovação de um aproveitamento de aspectos medievais em textos de escritores brasileiros e portugueses do século XX.