O trabalho tem como objetivo analisar as transmutações fílmicas da obra literária Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, em suas duas versões: A terceira margem do Rio, de Nélson Pereira dos Santos (1994) e Outras estórias, de Pedro Bial, (1999). Investiga o processo de transposição do literário ao fílmico, por meio da análise dos contos, para se determinar quais os eixos de leitura que os textos literários motivaram na ordenação e construção dos roteiros fílmicos. Tendo como apoio a teoria semiótica greimasiana, foram levantados os percursos gerativos de sentido dos contos e dos filmes, demonstrando que, nos níveis mais abstratos, como o fundamental e o narrativo, a transposição de um sistema a outro preserva mais relações de conjunções, enquanto que, no nível discursivo, as disjunções resultam em obras autônomas. Nesse nível, também foram desenvolvidas reflexões e indicações de peculiaridades das linguagens no processo de transposição fílmica, ou seja, foram estabelecidas também correspondências e relações de efeitos de sentido. Palavras-chave: literatura, cinema, Guimarães Rosa, mito, semiótica.
O objetivo deste trabalho é a análise comparativa entre Primeiras Estórias, publicado por Guimarães Rosa em 1961, e o filme A terceira margem do rio, produzido em 1993 por Nelson Pereira dos Santos, com base em cinco contos do livro de Rosa. Pretende-se demonstrar alguns dos aspectos estético-semióticos que envolvem o processo de adaptação do texto literário para o texto fílmico, o que implica a definição do grau de aderência, de afastamento e de interferência resultantes desse processo. Em primeiro lugar, identificamos em Primeiras Estórias uma estrutura especular a partir de relações significativas entre os tecidos narrativos dos contos O espelho, As margens da alegria e Os cimos, em função de um jogo com a posição dos respectivos contos no livro. Em segundo lugar, feitas as interpretações sobre essa estrutura em relação aos demais contos, levantamos a hipótese de que o filme se compõe segundo uma transmutação da estrutura especular do livro de Rosa. Articulada à unidade narrativa que Nelson Pereira dos Santos deu às cinco narrativas em que se baseou, transformando seus núcleos de ação independentes numa única história no filme, essa transmutação confere ao filme sua autonomia criativa. Finalmente, aplicando os conceitos da sociologia estruturalista genética de Lucien Goldmann (1978, 1990), trabalhamos com a hipótese de que a diferença entre as formas das obras é decorrente de distintas consciências possíveis de grupos sociais.