texto: Circe Bonatelli
Fotos: Cecília Bastos

 


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© Cecília Bastos
“Quando se fala em desenvolvimento infantil tudo é muito variável”, explica a psicóloga Elisabeth Flory

 

 

 

 

 


“No começo, eu fiquei um pouco preocupada e ansiosa”, lembra Soraya Gomiero, psicóloga e mãe de uma bilíngüe. Ela e o marido decidiram pela educação bilíngüe, pois interpretaram que o aprendizado seria mais natural. Depois de oito anos passados desde a matrícula, estão satisfeitos com o resultado da filha Stephanie. “Foi um super ganho, saiu melhor que o esperado”, conta Soraya.

O mecanismo que ajuda os pequenos poliglotas a se ajustarem é chamado entre os neurologistas de code switch , ou câmbio de código. Através do processo inconsciente, as crianças ajustam não só as palavras dentro das regras de um idioma, mas também as regulam de acordo com o interlocutor. Ou seja, falam a língua de quem as está ouvindo.

“Às vezes eles conversam em inglês entre si. Acontece no automático, nem percebem”, conta a médica Aracy Sakashita, mãe de duas crianças bilíngües. “Eu não tenho fluência, então comigo, é só português.”

“É comum que os pais não falem inglês ou espanhol em casa. Mas está tudo bem, porque as crianças com mente bilíngüe distinguem conteúdo e contexto desde muito cedo”, atesta Lyle Gordon French, coordenador pedagógico de uma escola do gênero. “Na escola eu falo egg , em casa eu falo ovo. É assim”, completa o canadense.

Na idade adulta, o code switch não deixa de acompanhar o indivíduo. O câmbio é utilizado quando se pula para o outro idioma, no meio da frase, buscando uma expressão específica. Ou em outras situações: quando se deseja incluir ou excluir uma pessoa na conversa, falar reservadamente, ou demonstrar interesse pela pessoa, falando na língua que mais convém ao amigo.

“A troca de língua tem vários significados e não precisa ser negativo”, retoma a psicopedagoga Elisabeth Flory. “Só que os pais devem respeitar os contextos. Às vezes, faz sentido falar a segunda língua na escola, onde as outras crianças e professores também falam. E pode não fazer sentido falar em casa, sozinha. Os pais acabam preocupados, mas nem sempre é preciso. Quando se fala em desenvolvimento infantil tudo é muito variável.”

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