A imagem que foi alvo de disputa folclórica entre brancos e índios

Piraju tem, em sua igreja matriz, uma imagem do padroeiro que faz parte da história do município desde antes da chegada da família Arruda, uma das doadoras de terras para a fundação do Patrimônio.

A história das brigas entre brancos e índios pela posse da imagem de São Sebastião até hoje faz parte do folclore local.

A CHEGADA DOS ÍNDIOS E DOS ARRUDAS

Por volta de 1845, segundo relato do pesquisador e jornalista Constantino Leman, índios Caiuás estabeleceram-se às margens do Rio Paranapanema, criando a aldeia Piraju. Tais índios, em 1847, foram catequizados por padres capuchinhos que estavam na cidade de Barão de Antonina em tarefa de ensinar o evangelho para índios daquela localidade e, sabendo de aldeamento próximo, teriam se deslocado até a atual Piraju para catequizá-los.

A família Arruda, cujo patriarca era fervoroso devoto de São Sebastião, chegou a Piraju em 1859. Era comum, na época, os homens brancos realizarem barganhas e negócios com os Caiuás da aldeia.

Certa feita, ao entrar na maloca principal dos índios para negociar, Joaquim Antonio de Arruda vislumbrou uma perfeita imagem do santo de sua devoção. Sua forte fé o fez crer que encontrar tal objeto na residência dos índios fosse fruto de providência divina. Em troca da imagem, ofereceu uma boa quantidade de utensílios, vasilhames e tecidos.

Consta que os índios podem ter estranhado a generosa oferta dos brancos – dando-lhes tanto em troca de apenas uma figurinha de madeira de cores discretas; e não faltou quem, entre eles, desconfiasse que seu valor devia ser bastante elevado, já que o velho Arruda demonstrava tamanho interesse no objeto.

Negócio feito, a imagem passou, então, à posse de Joaquim Antonio de Arruda e foi depositada na capela do Tijuco Preto (nome de Piraju à época).

Foto: Martina Sanchez

DISPUTA

Uma parte dos índios, porém, discordava do negócio e decidiu tomar o “fetiche” de volta assim que caísse a noite. Arrombaram a porta da capela e levaram consigo a imagem de madeira.

Ao ter notícia do furto, o velho Arruda decidiu reaver a imagem, que já era querida pelos tijuquenses. Os homens mais jovens tencionavam atacar o acampamento dos índios para recuperar a estatueta do padroeiro, mas foram contidos pelos mais velhos.

Não há detalhes, nos relatos de Constantino, sobre como a imagem voltou para as mãos dos homens brancos, mas sabe-se que algumas pessoas voltaram feridas do encontro para a tomada da imagem.

Depois disso, um clima desagradável assolou a área, pois temia-se novo embate entre brancos e índios a qualquer momento. Com o passar do tempo, o conflito foi apaziguado e a situação voltou à normalidade.

Nas considerações do historiador Constantino Leman, a imagem disputada certamente fora um presente dos padres capuchinhos aos índios em meados de 1847. Escreveu ele: “Nem pode haver dúvida de que ele (frei Montefalco, líder dos capuchinhos) tenha trazido consigo essa imagem, ou talvez algumas delas, especialmente confeccionadas para agradar aos selvícolas pelo aspecto do santo, ferido de flechas, o corpo desnudo, encostado a uns troncos, e os cabelos cortados à moda dos matutos. Por isso, cremos ter fortes razões para atribuir aos missionários italianos o fato de terem trazido para o Brasil essa imagem tosca e, ao mesmo tempo, bem talhada, com pedestal de certo estilo”.

Referências: LEMAN, Constantino. “O São Sebastião do Tijuco Preto”, Piraju, 1966.

One thought on “A imagem que foi alvo de disputa folclórica entre brancos e índios

  • 20 de março de 2021 em 10:04
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    Parabéns pelo relato Naomi!
    Lembro-me de um relato quando da comemoração da imagem referida em um programa da rádio Piratininga : ” então, os índios foram transferidos de “seu lugar”….!”

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