Luiz Otávio Motta e o cenário rural de Piraju e região

Por Maria Laura López *

O interesse pelo campo é de família, mas talvez tenha pulado uma geração no caso de Luiz Otávio Motta que aponta o avô, Jairo Dias da Motta, como principal influência. Enquanto o pai José Cirineu decidiu sair do sítio e ir para a cidade, o pirajuense fez o caminho contrário, arrumando um pedaço de terra para fazer o que mais gosta: criar gado leiteiro. Hoje, aos 48 anos, o currículo é extenso: além de produtor, ele também é zootecnista, presidente do Sindicato Rural de Piraju e instrutor de cursos no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

Motta é formado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, em Jaboticabal, com especialização em “Nutrição de Ruminantes e Manejo intensivo de Pastagens” e MBA em Gestão do Agronegócio, ambas na ESALQ-USP, em Piracicaba. “Na hora de escolher a faculdade eu até cheguei a ficar em dúvida, mas acabei trilhando esse caminho mesmo para poder mexer principalmente com vaca de leite, que era meu sonho de criança”, afirma e lembra ainda que, embora difíceis, os já 20 anos de profissão foram e são gratificantes.

Como produtor, o zootecnista tem o objetivo de trabalhar com a produção de queijos artesanais. Segundo ele, algumas pessoas já lidam com esses produtos, porém ainda de modo muito informal. Por isso, é necessário investir a fim de criar um nicho e tornar a região produtora de queijos diferenciados.

Um dos passos para formalizar essa ideia foi com um grupo de colegas que se junto à Associação de Produtores de Leite da vizinha cidade de Fartura para viabilizar o negócio na região. “A gente tem caminhão próprio, faz a negociação em conjunto e consegue preços melhores. Aqui em Piraju nós ainda somos poucos produtores de leite, então para nós foi melhor se associar a esse grupo”, explica.

Na verdade, segundo ele, a cidade enfrenta um momento rural de avanço das commodities sobre o município. “Muitas das propriedades que eram de agricultura familiar estão sendo arrendadas para a produção de soja e milho, por conta do preço internacional, o que já ocupa 20% do território de Piraju”. Mas, a tradição cafeicultora do município ainda é mantida com a produção de um café de ótima qualidade.

SENAR

Ministrando curso no Senar (Arquivo Pessoal)

Para manter essa herança cultural dos produtores rurais de Piraju, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) tem um papel fundamental. Luiz Motta, que é instrutor de alguns cursos sobre gado leiteiro, conta sobre a capacitação que o Senar promove para os trabalhadores rurais da região.

“Todos os cursos são gratuitos, para que sejam acessíveis ao maior número de pessoas, e seu oferecimento vai de acordo com a demanda da população”, afirma. Outro ponto que Motta ressalta é que esses programas, muitas vezes, levam conhecimento para pessoas com menor instrução e por isso o Senar trabalha com o aprender fazendo. Nesses casos, a prática é mais importante que a teoria.

É também por isso que os cursos não pararam totalmente durante este período de pandemia, embora algumas medidas tenham sido tomadas para prevenir a contaminação, como a diminuição do número de alunos e o distanciamento social. “A agropecuária depende basicamente do clima. Então, por exemplo, um curso sobre reforma de pastagem eu preciso aproveitar o período de chuvas para oferecê-lo, para as pessoas conseguirem praticar”, explica.

Antes de virar instrutor, Motta conta que começou como voluntário em um projeto da Embrapa, que durou de 2002 a 2007. Assim, quando o Senar resolveu criar o seu programa pró-leite, acabaram aproveitando alguns voluntários que haviam colaborado com a Embrapa anteriormente.

Sindicato Rural de Piraju e a experiência midiática

Apresentando o Programa Sudoeste Agro, sobre “Produção Artesanal de salames” com Tiago Mucha (Reprodução)

Em paralelo, o zootecnista se tornou sócio do Sindicato Rural de Piraju. Com a morte do ex-presidente José Rubens de Oliveira, um dos principais lutadores pelos direitos dos agricultores e pecuaristas na região, ele acabou formando uma chapa e assumindo a presidência do sindicato. “A ideia agora é aumentar o número de associados e fortalecer o sindicato de forma geral. Com a mudança de governo, o repasse de impostos para os sindicatos acabou, então a gente precisou se reestruturar”, destaca.

Parte dessa reinvenção veio no formato de um programa de TV, veiculado pelo canal da Sudoeste WebTV, no YouTube. O Sudoeste Agro existe há dois anos, mesmo tempo de mandato de Motta, e surgiu de uma parceria entre o canal e o sindicato. “Na verdade, é um programa de agro, não necessariamente sobre o sindicato. Mas não deixa de ser um espaço importante para divulgar nossas ações e promover um debate sobre o agronegócio regional”, afirma ele.

O programa de entrevista acontece toda segunda-feira e conta com convidados diferentes a cada semana. Segundo ele, o número de acessos tem ido bem, além de estarem conseguindo atingir mais pessoas do próprio sindicato também.

Luiz Otávio Motta deixa uma mensagem aos jovens agricultores e pecuaristas de Piraju: “É preciso preparar o agricultor para uma produção baseada em dados científicos, sustentável e economicamente viável, e essa é uma das atribuições de nosso Sindicato, especialmente por meio dos cursos do SENAR”.

*Maria Laura López é repórter e bolsista do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

One thought on “Luiz Otávio Motta e o cenário rural de Piraju e região

  • 21 de maio de 2021 em 13:07
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    Por mais zootecnistas atuantes assim!!!
    Parabéns pela reportagem!

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