Laguinho da praça da Matriz: um verdadeiro caso de amor – PARTE 1

Por Leonardo Corey Belleza

Se você vive em Piraju ou na região, possivelmente já ouviu lendas da história do lago da Praça da Igreja Matriz. Porém, antes de contar sua história, é necessário enxergá-lo assim como era na época em que fatos e boatos começaram a se misturar. 

No jardim, todas as tardes, os pirajuenses iam descansar dos empasses diários. Um lugar rodeado de belíssimas e formosas árvores, que faziam sombra sobre toda a praça nos dias mais quentes. Nos canteiros, havia as mais diversas plantas e flores, como as roseiras e palmeiras. Os caminhos do jardim eram como calçadas com formas agradáveis. Embaixo das árvores haviam confortáveis bancos verdes. Lá, em tardes calmas como as de um domingo, podia-se ouvir o canto dos pássaros. 

Nesse sentido, em meados de 1909, época em que se estava construindo a Usina Boa Vista, vieram pessoas para “servirem” como mão de obra. Porém, foi no período entre 1925 e 1936, quando as construções foram iniciadas e findadas (e deram origem à ponte Nelson de Godoy Pereira e à Usina Hidrelétrica Paranapanema) no município de Piraju, que Lustosa, um dos destaques desta matéria, era um desses funcionários. Engenheiro, veio a Piraju para trabalhar nesse período. Como uma típica cidade pequena, sem muitos lugares para explorar e relaxar, após o seu trabalho, o jovem saía para dar uma volta na praça da Igreja Matriz.

Em uma noite de céu estrelado, uma das primeiras em que estava na cidade, a caminho da praça como parte de sua rotina, Lustosa avista uma bela jovem na janela. Era um lugar onde sempre passava em frente, ficando instantaneamente apaixonado, sem ao menos ter ouvido sua voz. Adélia, a moça da janela, era reclusa e evitava sair às ruas, pois uma de suas pernas era mais curta do que a outra. 

A partir de então, as trocas de olhares distantes e apaixonados ocorriam quando ele passava todos os dias em frente à casa de sua almejada. Nesse contexto, como uma forma de encontro, passaram a trocar cartas. Lustosa passava de manhã, a caminho do trabalho, e deixava uma carta para a amada na janela de seu quarto e, na volta do expediente, buscava a resposta no mesmo lugar.  

Em um determinado dia, o jovem encheu-se de coragem e bateu à porta do grande casarão onde morava Adélia, e foi atendido pelo pai da moça, Carlos Ferreira, o anfitrião de uma grande e respeitada família na cidade. Mesmo assim, Lustosa abriu o seu coração e falou de todo seu encantamento e paixão pela filha do homem, mas foi respondido às pressas para não se aproximar mais da jovem, pelo fato de ser um homem de origem desconhecida. Ele ainda insistiu de muitas formas, mas todas fracassaram.

Era comum, antigamente, o infeliz pensamento conservador, em que não era visto com bons olhos que os munícipes se casassem com pessoas de fora da cidade.

As trocas de cartas entre os apaixonados injustiçados foram, posteriormente, descobertas por um dos irmãos de Adélia, que as encontrou quando se aproximava uma grande chuva e ocorria uma ventania, caindo da janela o vaso em que ficavam apoiadas, entregando-as ao pai. 

Carlos Ferreira, imediatamente, sem esperar ou possibilitar alguma explicação, manda Adélia a um colégio interno, em Itu (SP). Nesse período, longe de sua amada, Lustosa se afogou em uma severa depressão e começou a beber, o que acarretou sua demissão. Contudo, arranjaram a ele um emprego na prefeitura da cidade de Piraju, justamente na época em que acontecia a reformulação da praça. 

Como maneira de eternizar seu amor, o apaixonado fez o lago em formato de coração humano, em que sua extremidade apontava para a janela do quarto de Adélia, de onde era possível enxergá-lo com clareza.

Infelizmente, Lustosa adquiriu tuberculose e foi morar em um sanatório em Campos do Jordão – era o único lugar que tratava a doença no Brasil – onde faleceu. Já Adélia continuou solteira e só viu o lago depois que seu amado já havia ido embora da cidade e falecido, mas não há evidências de que ela soube da verdadeira história. 

Diva Do Val Golfieri, melhor amiga de Adélia, faleceu em 2018, a qual relatou ao jornalista Théo Motta o acontecimento. Diva foi a testemunha viva desse caso de amor, podendo ter contado à amiga sobre a homenagem, ou se a moça da janela morreu, considerando aquele apenas o laguinho da praça. 

Porém, após alguns anos, outra versão, da mesma história, foi contada por ela. Caros leitores, os convido para a ler e descobrir a verdade sobre esse caso de amor em breve. 

Leonardo Corey Belleza é bolsista e repórter do Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II do Programa USP MUNICÍPIOS

3 thoughts on “Laguinho da praça da Matriz: um verdadeiro caso de amor – PARTE 1

  • 5 de outubro de 2021 em 14:47
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    Parabéns pela matéria, Leonardo!

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    • 10 de outubro de 2021 em 14:26
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      Parabéns Leonardo, linda história de amor do nosso tão querido laguinho 💌💘 Deus lhe abençoe 🙏

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  • 7 de outubro de 2021 em 14:49
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    Eu li uma vez, essa história em um artigo do Theo Motta, mas nunca soube dos detalhes. Fiquei muito curiosa e sempre pensei em um dia , se encontrasse o Theo na padaria, iria questionar esse assunto.
    Agora estou felicíssima com esse trabalho do LEO. Descobri os detalhes, Parabéns Leo.
    Eu conheci muito a Dona Adélia Ferreira do cartório. Eu frequentava sempre a casa dela, porque eu levava as costuras que minha mãe fazia para Dona Adélia e Dona Terezinha (filha e mãe). Eu me sentava ao lado da Dona Terezinha (na cadeira de balanço) , para ouvir histórias. Algumas não esqueci até hoje. Eu morava ali pero na Rua Nenê Freitas.

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