A Grade

derrubei pedra
sobre pedra em mim
no desejo de todos
de ser qualquer coisa

sucumbi com a boca
costurada de grades

nada sobrevivi
senão desta sensação
em ser o nada

a casca da cigarra que já foi
toda cânticos e amorosa de árvores
lampreia agora fantasma a seco
pairando no grude dos galhos
apenas como lembrança dos dias

o sol não
é o centro
nem o céu a face
não há imagem ao sul
nada que ame a semelhança
senão pela ótica de si

* Carlos Alberto Muzille é escritor e ativista ambiental e cultural.