São Paulo (AUN - USP) - Sim. Os paÃses em desenvolvimento cometeram o pecado original, mas isso não envolve maçã nem jardim do Ãden. Pecado original (original sin) é a denominação que a professora Bárbara Fritz, da Universidade Livre de Berlim, emprega para identificar os paÃses que se endividaram com alguma moeda estrangeira forte, particularmente o dólar. O Pecado Original seria uma taxa que daria uma dimensão do nÃvel desse endividamento, perpetuado basicamente por questões históricas envolvendo anos de colonialismo.
No estudo de Bárbara, apresentado em palestra do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam) na Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA), surgem duas alternativas para esses paÃses, geralmente de economias pouco diversificadas e mais suscetÃveis a volatilidade dos fluxos de capital, voltarem triunfantes ao "Ãden". A primeira seria uma integração com paÃses já desenvolvidos, no que Bárbara denomina Integração Norte-Sul. Seria a melhor opção, mas está indisponÃvel para a maioria dos paÃses devedores, já que os paÃses desenvolvidos só teriam desvantagens no processo. Uma das exceções seria o caso da União Européia aceitar paÃses menos desenvolvidos economicamente sob sua tutela.
A segunda melhor opção, segundo Bárbara, seria uma Integração Sul-Sul, que seria alcançável para a maioria dos paÃses com nÃveis altos de Pecado Original. Essa integração ajudaria em teoria uma desdolarização dos paÃses participantes. Ainda assim, os custos de coordenação de tal opção são muito altos.
No caso de uma tentativa de Integração Sul-Sul, ela identifica três possÃveis estágios em que esse conjunto de paÃses pode se encontrar. O primeiro estágio seria o de âNão-cooperaçãoâ, em que há uma grande falta de compromisso entre os membros. Eles apenas pediriam ajuda aos parceiros em casos de choques extra-regionais ou em situações extremas. Bárbara identifica o Mercosul como um dos exemplos desse caso.
O nÃvel intermediário, segundo a professora, seria o de âCooperaçãoâ, em que já haveria uma estabilização do câmbio intra-regional. Exemplos desse nÃvel seriam a CMA (Common Monetary Ãrea), que tem a Ãfrica do Sul como paÃs de menor nÃvel de Pecado Original, e a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O nÃvel maior de Integração seria alcançado com a instituição de uma moeda comum e um desenvolvimento financeiro regional.
Para alcançar um nÃvel satisfatório de desdolarização e desenvolvimento regional independente, Bárbara afirma que são essenciais algumas conquistas básicas: uma moeda âncora regional, o apoio de uma instituição financeira regional multilateral e a existência de polÃticas coordenadas. A ausência desses fatores impossibilitaria uma Integração Sul-Sul e deixaria fechadas as portas do Ãden econômico para esses paÃses maculados pelo Pecado Original.