ISSN 2359-5191

16/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 133 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados
Impacto da substituição do varejo tradicional nos níveis de obesidade também foi estudado

As grandes redes de supermercados têm visto no Brasil uma grande oportunidade de crescimento. Com um mercado consumidor em ascensão, o país atraiu diversas franquias que haviam atingido o limite do lucro em países de alta renda. No entanto, a ascensão dos supermercados trouxe para o Brasil os problemas do primeiro mundo: o consumo de ultraprocessados e o consequente aumento da obesidade na população.

A pesquisa que deu origem a tese de mestrado Influência dos supermercados na disponibilidade e preço de alimentos ultraprocessados consumidos no Brasil analisou um aspecto diferente do consumo. “Tem estudos que estimaram a participação de ultraprocessados na dieta de brasileiros e agora estão expandindo para outros países. Mas a parte do comércio, de como se estrutura o varejo nesse sistema, é muito pouco discutida”, afirmou a autora da pesquisa Priscila Pereira.

Priscila analisou em quais locais de compra a aquisição dos ultraprocessados tinha mais peso. “[Ultraprocessados] são alimentos prontos para consumir, basicamente feitos de ingredientes industriais, com pouco ou nenhum alimento inteiro. Eles têm altos teores de açúcar, gordura, óleo e um monte de aditivos.” O resultado indicou que os supermercados têm grande participação no desenvolvimento desse hábito não saudável dos brasileiros: 60% de todos os ultraprocessados adquiridos vêm dos supermercados. Prejudiciais para a saúde, esses alimentos estão entre as principais causas da ascensão da obesidade.

Domínio da alimentação

O ambiente do mercado leva as pessoas a adquirirem mais alimentos ultraprocessados do que em outros locais de compra. Isso se dá por questões organizacionais, como os espaços de prateleira desses produtos, bem como a disposição do espaço físico da loja - “Os supermercados têm todo um ambiente para chamar as pessoas para comer ultraprocessados. As propagandas de carne e de frutas chamam as pessoas. Chegando lá elas são bombardeadas pra consumir alimentos ultraprocessados. Você entra no mercado e as frutas estão lá no fundo, então você é obrigado a passar nos corredores.”

Além disso, com a supressão do varejo tradicional pelas grandes redes, todas as etapas do sistema alimentar foram dominadas. A produção, o consumo, a distribuição dos produtos e, consequentemente, a nossa alimentação passa a ser controlada pelos supermercados. Esse ainda é um processo em desenvolvimento no país, como indica a pesquisadora: “No Brasil, ainda diferente de outros países, a gente tem uma diversidade de formatos no varejo. Isso até nos protege.” O mestrado, sem querer, conversa com outra dissertação chamada Biodiversidade e composição de alimentos: dados nutricionais de frutas nativas subutilizadas da flora brasileira de autoria de Ricardo Jorge Silva Mendes, que mostra como a questão da disponibilidade influencia a composição da mesa do brasileiro que, muitas vezes, deixa de consumir frutas nacionais com melhores valores nutricionais para adquirir frutas que, apesar de internacionais, ocupam o espaço do supermercado.

Priscila, ao saber dessa pesquisa, lembrou da falta de sazonalidade dos supermercados, uma vez que a disponibilidade de frutas ao longo do ano varia pouco. O mesmo não acontece nas feiras livres, que alinham a venda em relação à “época” de determinados alimentos.

Políticas públicas e alimentação

Constatado o peso que os supermercados têm na aquisição de ultraprocessados, a pesquisa procurou entender os motivos do consumo. Além da comodidade já mencionada, um outro fator determinante na hora da aquisição é o preço. “A gente testou o preço como mecanismo, porque ele é super determinante nas escolhas alimentares e temos observado uma redução do preço dos ultraprocessados ao longo dos anos, em relação aos alimentos saudáveis.”

A conclusão do estudo foi que o aumento de 1% no preço dos ultraprocessados levaria a diminuição da aquisição. Esse dado é importante para a elaboração de políticas públicas voltadas para uma melhor alimentação - “A gente tem que pensar em políticas fiscais para a taxação de alimentos ultraprocessados. As pessoas vão decidir, mas o ambiente condiciona totalmente o consumo.”

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br