ISSN 2359-5191

17/12/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 98 - Meio Ambiente - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Estudo geofísico analisa impactos de despejos de indústria química

São Paulo (AUN - USP) - Em sua pesquisa realizada para dissertação, Marina Minozzo avaliou os impactos ambientais vindos de produtos que foram descartados por uma indústria química. No caso, a indústria produz tintas, que são derivados do petróleo. A área de estudo localiza-se na zona sul do município de São Paulo, próxima à represa de Guarapiranga, no bairro de Parelheiros.

Marina apresentou sua dissertação para o Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP). O trabalho foi baseado em investigações e outras pesquisas sobre a contaminação feita pela indústria. A diferença dos estudos de Marina é que ela complementou dados geofísicos a conhecimentos de outros campos científicos, como Geologia, Biologia e Química.

Os métodos geofísicos aplicados pela estudante puderam determinar o comportamento da contaminação em subsuperfície. Através das medidas dos níveis de água e das cotas dos poços de monitoramento, observou-se que os elementos contaminados seguem o sentido preferencial do fluxo da água subterrânea, para leste-nordeste, no sentido da represa de Guarapiranga. As maiores concentrações situam-se em profundidade de 7,5 a 15 metros. Logo, parte das águas da represa foi atingida.

Além disso, analisando a biodegradação de hidrocarbonetos (composto químico do petróleo), mais suas três fases (livre, dissolvida e residual), constatou-se degradação em diferentes níveis dos resíduos contaminados. Como a fase dissolvida tende a se dispersar quando está no máximo de solubilidade em água, o hidrocarboneto tem seus teores de contaminação reduzidos. Nesse momento, com redução da toxicidade e aumento no teor de oxigênio, são criadas condições favoráveis para o processo de degradação por microorganismos. Esse processo é importante para a degradação de derivados de petróleo.

Contudo, apesar dos despejos da indústria ser antigo, o processo de biodegradação demora muito tempo. Nisso, a contaminação ainda perdura nas áreas afetadas, onde se observou grau elevado de componentes danosos ao meio ambiente e às pessoas. Dentre os componentes químicos constatados, estão: benzeno, tolueno, xilenos, etil-benzeno (BTEX), dicloroetano, clorofórmio e tetracloreto de carbono. Muitos desses são prejudiciais a saúde humana, podendo causar câncer, degeneração do fígado e outras doenças.

Marina explica que os maiores prejuízos ocorrem com a contaminação simultânea do solo e da água. Por exemplo, a água contaminada pode ser consumida por uma pessoa, o que neste caso se torna ainda mais preocupante com o aumento da população que ocupa regiões próximas à represa. “Assim como a plantação (tem riscos). Se você plantar alguma coisa num solo que está contaminado, essa contaminação vai, de alguma maneira, interferir no que vai crescer nesse local”, afirma Marina.

Métodos aplicados
Para obter os dados da pesquisa, Marina utilizou métodos geofísicos, aplicados a outros estudos de diferentes campos científicos. Desses métodos, destacam-se a eletroresistividade, a polarização induzida e o eletromagnetismo indutivo. Marina explica, em termos gerais, como eles funcionam: “Nós usamos equipamentos no subsolo, injetamos uma corrente elétrica e nós teremos uma resposta em relação ao que nós visualizaremos em solo de superfície. Através dessas respostas, que são os parâmetros físicos do local, nós formulamos os nossos perfis para tentar visualizar o que está ocorrendo em subsuperfície”.

Sobre a aplicação dos métodos, na eletroresistividade se injeta uma corrente elétrica no solo através de eletrodos cravados na superfície do terreno. Variações de resistividade elétrica causadas por heterogeneidades geológicas e hidrogeológicas podem ser medidas e mapeadas. A polarização induzida fornece leituras diagnósticas onde existem trocas iônicas na superfície de grãos metálicos. Já no eletromagnetismo indutivo, marcam-se os pontos no solo de uma linha reta com a ajuda de uma fita métrica e fazem medidas desses pontos; esses dados são coletados e computados por equipamento, que fornecerá um mapa de caracterização do local.

Os dados geofísicos foram aproveitados em conjunto com outros estudos, visto que eles têm aplicação indireta nos resultados da pesquisa. “Como ele (método geofísico) é um método de caracterização indireta, tendo seu resultado geofísico, você tem que ter algum outro dado direto para se ter um resultado mais preciso. Porque, às vezes, dependendo da interpretação que você fizer, não vai estar fazendo uma interpretação correta”, explica Marina. Desse modo, como diz a estudante, o modo geofísico se usa complementar aos outros para obter informações mais precisas.

Além disso, Marina também acrescenta que outra vantagem dos métodos geofísicos são as facilidades que eles oferecem. “São métodos (os geofísicos) relativamente rápidos, de baixo custo e você consegue mapear uma área grande em um curto intervalo de tempo. Isso vai ser bom para fazer uma caracterização mais geral da área num tempo menor do que se você fizesse somente métodos diretos”.

Acompanhamento dos despejos
A indústria em questão não está mais despejando os compostos contaminadores e hoje ela faz trabalho de remediação, fiscalizada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Entre as medidas emergenciais, a CETESB demandou monitoramento do índice de explosividade, remoção de materiais (produtos, resíduos...) e proibição de escavações. Das medidas de remediação, a indústria faz bombeamento e tratamento de água e uso de barreiras reativas.

Ademais, a indústria fornece a possibilidade de as pessoas trazerem tintas e outros produtos relacionados para serem reutilizados na indústria. A pedido de Marina e de seu coordenador da dissertação, o professor Vagner Elis, o nome da indústria química não pode ser revelado.

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