ISSN 2359-5191

05/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 20 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Estudo indica ser possível regular ingestão calórica na ausência de estímulos oro-gustativos
Testes feitos com camundongos mostram que o animal mantém constante a quantidade de calorias ingeridas por meio de liberação dopaminérgica
Pesquisa foi apresentada em palestra no ICB (Imagem: Otávio Fernandes Nadaleto)

Um estudo feito com camundongos sugeriu que, mesmo sem pistas oro-gustativas (ligadas à boca e ao paladar), o organismo consegue regular a ingestão de calorias. Este controle está relacionado a mecanismos de recompensa que envolvem a liberação de dopamina.

As conclusões foram apresentadas pela professora Sara Joyce Sammah-Lagnado em palestra ministrada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Ela deu suporte neuro-anatômico para a pesquisa de pós-doutorado de Josélia Gomes Ferreira, da qual surgiram tais informações.

“Na maioria dos animais adultos, inclusive nos humanos, o peso corporal é mantido relativamente estável ao longo da vida. Animais têm a capacidade de regular de forma precisa a quantidade de calorias ingeridas” explica Sara. “De certa forma, o sistema nervoso parece ser capaz de detectar e quantificar a ingestão de calorias”.

A professora explica que existe uma comunicação estreita entre o sistema digestório e o sistema nervoso central. Essa comunicação envolve sinais oro-gustativos (ligados ao paladar e a textura do alimento) e sinais pós-ingestívos (distenção gástrica e liberação de peptídeos pelo intestino em resposta à composição do bolo alimentar) que são veiculados para o sistema nervoso central por nervos periféricos ou pela circulação sanguínea. “A pergunta que nos fizemos foi: seria possível regular a ingestão de calorias na ausência de sinais oro-gustativos?”, conta Sara.

Para obter a resposta, utilizou-se camundongos com catéteres intra-gástricos, que foram treinados para lamber um bico de bebedouro seco, do qual eles não irão obter nada. A lambida aciona uma bomba que infunde um pequeno volume de uma emulsão de gordura diretamente no estômago. Esse aparato evita estimulações gustativas permitindo que o animal se auto-administre ativamente nutrientes, no caso gordura.

Os resultados mostraram que, quanto maior o teor calórico da emulsão de gordura, menor o número de infusões. Desta forma, os camundongos mantém constante o número de calorias ingeridas. Observou-se, também, que existe uma relação positiva direta entre a duração de jejum e a quantidade de calorias ingeridas. A partir disso, concluiu-se que os camundongos podem regular a ingestão de calorias de acordo com o nível de fome.

 

A circuitaria neural

 

Obtidos estes resultados, o grupo passou a se questionar quais sistemas neurais estariam implicados na regulação da ingestão de calorias. “Um candidato seria o sistema dopaminérgico meso-estriatal”, explica Sara.

A ingestão de alimentos em seres humanos está associada a um aumento da liberação dopaminérgica no estriado dorsal, parte do cérebro tradicionalmente relacionada com a motricidade (coordenação de impulsos motores). “Foi observado que a liberação de dopamina neste território está relacionada com o caráter prazeroso da comida” explica Sara. “Em outras palavras, isto sugere do sistema mesoestriatal possa estar associado ao comportamento motivado de busca de alimento”.

Em testes comportamentais realizados foi verificado que, na ausência de estímulos gustativos, animais com lesão do núcleo parabraquial lateral (região do sistema nervoso central que está envolvida no controle do apetite) são menos motivados para se auto-administrarem emulsões de gordura de alto teor calórico.

Os resultados da pesquisa rompem com noções até então vigentes. “Até agora, tinha se estudado a liberação de dopamina face a estímulos do meio externo: visuais, auditivos e somatossensoriais. Agora, estamos mostrando que estímulos viscerais (do meio interno) podem influir na liberação dopaminérgica”, pontua Sara.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br