Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP conseguiram descobrir quais são células e vias de sinalização envolvidas na fase inicial da resposta alérgica a um importante grupo de enzimas.
“Queríamos caracterizar o modelo de resposta a uma enzima do tipo protease chamada subtilisina” afirma Esther Florsheim. A pesquisa corresponde a sua tese de doutorado, que está em vias de conclusão. A substância em questão foi amplamente utilizada na indústria de detergentes durante os anos 60 e causou alergia em quase metade dos trabalhadores do setor. Nunca se soube como ela era capaz de induzir a resposta alérgica e é justamente isto que o grupo vem estudando.
Hoje, a subtilisina foi retirada da composição dos detergentes. Porém, ela pertence a um classe de moléculas que causam diversas outras alergias, como a baratas, fungos e ácaros. “Nossa intensão era escolher um alérgeno ao qual as pessoas fossem bastante suscetíveis a desenvolverem alergias”, afirma.
“Descobrimos quais moléculas são geradas quando se introduz este alérgeno, quais células o detectam e qual a atividade delas posteriormente, isto é, o que produzem para alertar o sistema imune para que responda àquele antígeno”, explica Esther. “A forma como o alérgeno é reconhecido ainda não está muito clara. Temos algumas pistas, mas ainda não é completamente sabido”.
Saber como o sistema imune reconhece e produz uma resposta à subtilisina tem grande relevância clínica pois diversos alérgenos conhecidos são proteases similares. Porém, Esther explica que ainda é cedo para falar em aplicações em humanos, pois é muito difícil saber quando o homem está sensibilizado e quando desenvolve resposta.
Metodologia
Para descobrir como o alérgeno atua, o grupo induziu alergia em camundongos. Para fazê-lo, utilizaram um adjuvante, que cria uma inflamação e direciona a resposta imune, de forma similar ao que ocorre em vacinas. No caso, utilizou-se a substância mais comum, que quase sempre é empregada em vacinas: o alum (hidróxido de alumínio). Ao injetar uma proteína associada a este adjuvante, o organismo entende que deve produzir uma resposta específica para aquele antígeno através do sistema imunológico.
Feito isso, o passo seguinte consistiu em direcionar a resposta do organismo. “Se estamos estudando asma, duas semanas depois de induzir a alergia nós colocamos a proteína no nariz do camundongo. Se queremos uma alergia alimentar, damos a proteína para ele comer”, explica a pesquisadora.
Para saber se o animal desenvolveu alergia, diversos testes. “Analisamos a presença de anticorpos no soro sanguíneo, a função pulmonar dos animais, análise de tecido pulmonar para verificar inflamação, produção de muco. Todos deram positivo”, afirma.
Outros êxitos
Uma das conclusões a qual o grupo chegou foi bastante surpreendente. Observou-se que, quando se utiliza uma enzima, como uma protease, para induzir alergia, não é necessário utilizar adjuvante. Isto é visto de forma positiva pois torna a resposta alérgica mais natural, além de ser mais prático e econômico.
As descobertas feitas estão de acordo com o que já foi descrito na literatura médica e são de grande importância nas discussões sobre alergia. “Há um grande debate sobre se as alergias se devem a componentes genéticos ou a fatores ambientais. Está ficando cada vez mais claro que não são somente fatores genéticos. Parece que elas estão mais ligadas ao estilo de vida moderno, à alimentação… e nosso trabalho sugere o mesmo”.