ISSN 2359-5191

05/12/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 95 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Homossexualidade rompe valores tradicionais nas camadas altas
Bandeira da homossexualidade: caráter transformador do desejo. Foto: divulgação.

A dissertação Herança, distinção e desejo: homossexualidades em camadas altas na cidade de São Paulo, do antropólogo Marcio Zamboni, reflete sobre como marcadores sociais da diferença criam novas relações e possibilidades. Analisando pessoas de 40 a 55 anos pertencentes a camadas altas da cidade de São Paulo e que se afirmam homossexuais, o pesquisador conclui que o desejo e a homossexualidade rompem com a herança e a distinção familiares, pois “para um sujeito muito rico, uma identidade homossexual pode ser fonte de profundo sofrimento, devido à impossibilidade de conciliá-la com as expectativas associadas à sua posição”.

Em sua dissertação, Marcio mostra que a desigualdade social tem pelo menos dois lados, não podendo ser encarada como um fenômeno unidimensional, pois “desiguais somos todos nós que vivemos em uma sociedade extremamente desigual”. As camadas altas são afetadas pelas desigualdades de classe quando associadas à ideia de consolidação e aprimoramento de suas próprias posições, gerando disputas internas na elite. Quanto à opção sexual, as camadas altas não estão livres de sofrimentos e constrangimentos quando não se encaixam no padrão heteronormativo.

Nas camadas altas, questões de gênero, sexualidade e corporalidade são centrais. É esperado que membros da elite se comportem conforme padrões tradicionais e heteroafetivos, justamente para manter as posições familiares. Segundo o pesquisador, nas décadas de 1980 e 1990, momento mais crítico da epidemia de aids, seus interlocutores sentiram drasticamente o peso da desigualdade e da vulnerabilidade. Neste período, as redes de sociabilidade e amizade homossexuais, inseridas na cena intelectual e artística da cidade, foram fundamentais para suprir a falta de apoio familiar.

O desejo e a sexualidade representam uma quebra do convencional, uma dimensão transformadora que diferencia os homossexuais do resto de suas famílias tradicionalistas. Marcio afirma que “eles (interlocutores) estavam sempre me dizendo que algumas das escolhas mais ousadas ou menos convencionais que haviam feito em suas vidas – e das quais falavam com muito orgulho – estavam diretamente associadas à homossexualidade”. O desejo e a homossexualidade surgem como ruptura aos valores tradicionais de família, herança e distinção.

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